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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

PALAVRAS DA MINISTRA MARINA SILVA

Da Ex - Ministra Marina Silva, quem sempre admirei, sobre fala do Psicanalista Ricardo Goldemberg, autor do livro "Psicanálise e Política"
Escreveu a Senadora Marina:
Goldemberg fez uma breve, mas muito relevante e significativa referência à diferença entre o nosso "ethos" político ocidental e dos asiáticos.
Não comparou culturas, mas evidenciou as diferenças de percepção e sentido do ato de cometer erros em cada uma das cosmovisões, sobretudo no que diz respeito ao trato da coisa pública.
Na tradição asiática, o sujeito situa-se no mundo pelas mãos, olhar e escutar do grupo ao qual pertence - família, colegas do trabalho, comunidade -, o que resulta num peso incomum, para o coletivo, de tudo o que o indivíduo faz.
Já na tradição ocidental, o referencial que orienta nossa conduta moral, ética e social está centrado quase que exclusivamente nas virtudes ou defeitos dos indivíduos.
Isso implica grande diferença na forma como as duas tradições lidam com o erro, a fraude ou os mal-feitos em geral que campeiam no reino da política.
Na primeira (asiática), o sujeito é reconhecido pela maneira como o grupo o aceita e empodera.
Assim, se qualquer atitude ou ação desabonadora individual se transforma em prejuízo material ou moral também para o coletivo, quando ela acontece é fonte de grande e quase irremediável vergonha.
Na segunda (ocidental), ainda que o pertencer a um grupo seja igualmente condição para situar-se no mundo, os erros e virtudes são predominantemente focados no indivíduo.
A atitude ou ação desabonadora que alguém fizer recai sobre ele mesmo. O prejuízo moral e ético, motivo ou não de culpa, terá um peso majoritariamente pessoal.
Lá quando erram, a vergonha perante o grupo ao qual devem honra e satisfação é tanta que muitos chegam ao extremo de acabar com a própria vida.
Aqui, quando não tentam tapear a inteligência alheia com justificativas esfarrapadas, às vezes apelam a uma segunda chance, com "juras de lição aprendida". Isso, quando não desaparecem por um tempo necessário ao esquecimento e voltam para repetir os mesmos erros e contravenções.
Seria muito bom para o Brasil se- nos casos que envolvem a ética pública e o dinheiro do contribuinte, para além da apuração dos fatos, julgamento rápido, isento e severa responsabilização criminal- houvesse arrependimento sincero, menos culpa e mais, muito mais, vergonha.
Jornal FSP de 7/12/09 (resumo)
Marina Silva é Senadora, foi Ministra de Meio Ambiente do atual Governo e é pré-candidata à Presidência da República. Poucos políticos podem escrever isso hoje no Brasil.
ER

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