O defeito no pé que o obrigava a
utilizar uma bengala, segundo ele, com curtas e secas explicações, era de
nascença. De acordo com os fofoqueiros da Boa Vista foi devido a uma paulada
levada nas imediações do Beco do Saci, num de seus plantões como lobisomem.
Sei lá...
Só sei que depois de fechar a
sapataria e bimbalhar os sinos da Igreja São José às seis da tarde, dava a
tradicional passada no Bar Caçador para tomar umas três com Fernet. Desciam
redondas.
Ás sextas, o bar lotava no final
da tarde. Foi quando aconteceu a desgraça.
Conseguindo uma beirada no
balcão (na Boa Vista os profissionais só bebem em pé, encostados no balcão.
Mesas são para amadores e turistas), o nosso mal-humorado Procópio assumiu a sua
cômoda e tradicional posição, ou seja, dava um giro com a perna direita em torno
da bengala e apoiava o lado de baixo do joelho sobre a sua curva.
É bom que se diga sobre o
cuidado especial que tinha com sua lustrosa bengala. Constantemente colava um
círculo de borracha (pneu) nas partes que tocavam o solo. O caminhar ficava,
imagino eu, mais suave e silencioso.
Um vizinho de balcão, antes de
virar um copinho de cachaça, deixou cair um gole no chão, como de costume, "pro
santo".
Numa ajeitada dada pelo nosso
herói, o fundo "slick" da bengala encontrou a pista molhada pela cachaça. Ali
começou a derrapagem.
Procópio foi assistindo passar
pelos seus olhos assustados toda o vitrine de vidro do Bar Caçador. Passaram
suspiros (rosa, branco e amarelo), paçoquinhas Amor, marias-mole (morena e
branca), docinhos biriba (por baixo leite e por cima cocada), enfim, todos os
produtos "Confiança" fornecidos pelo Sr. Hermínio.
E continuou indo, até
ultrapassar uma das portas do bar e enfiar a cabeça por dentro do "quadro" de
uma bem equipada bicicleta Humber, estacionada na beira da calçada,
Durante muito tempo ficou a
marca do pneu, digo, da bengala, nos ladrilhos do "Caçador".
Não se machucou, mas recusando
ajuda, se levantou e erguendo a bengala como D. Pedro I no grito da
independência, bradou:
Quem rir, leva
porrada!
ER
7 comentários:
Simplesmente espetacular! E a pinga com Fernet seria o famoso "Rabo de Galo", ou estou enganado? História genial!
E.R..... Infeizmente quem nao conheceu a figura do GRANDE PROCOPIO nao vai acreditar no que foi contado acima.........Mas e quase tudo verdade .........
Que nao conheceu PROCOPIO nao acredita no que foi contado acima........PROCOPIO figura TOP 1000 da antiga BOA VISTA......Amanha e o dia de lembrar de nossos entes queridos e ........do. Grande Procopio.......
Anônimo,
Tive o privilégio de conhecer o grande Procópio. Passei, quando menino da Boa Vista, horas na sua sapataria(ficava ao lado da casa do meu avô Jayme). Obseveio no serviço de alto-falante da quermesse São José e cuidando da meninada do nosso vasquinho. Fui um admirador. Estou sempre lembrando dele com carinho. Pode acreditar.
abraço
Zelador
RAbo de galo, diz o Curi? Não sei, porque em minhas fases áureas e abonadas de 14-16 anos tomava no máximo uma "tabarana", pinga com groselha, naquele bar que existia onde é hoje o banco do Brasil.
Nada a ver com o assunto, mas acabei de ouvir da Ana Maria Braga uma frase que gostei:
só peixes mortos nadam a favor da corrente...
Caro ER.Procópio foi meu técnico no Renegadinho F.C e era uma pessoa fantástica,seu maior amigo era o Antonio Augusto Almeida apelidado de Carlyle por Procópio.
Virgilio de Oliveira Machado
Postar um comentário