Deu no Noblat:
Dá-se a prudência como característica marcante dos mineiros.
Teria a ver, segundo os estudiosos, com a paisagem das cidadezinhas de
horizonte limitado, os depósitos de ouro e de pedras preciosas explorados no
passado até se esgotarem, e a cultura do segredo e da desconfiança daí
decorrente.
Não foi a imprudência que afundou a vida de Marcos Valério. Foi Roberto
Jefferson mesmo ao detonar o mensalão.
Uma vez convencido de que o futuro escapara definivamente ao seu controle,
Valério cuidou de evitar que ele se tornasse trágico.
Pensou no risco de ser morto. Não foi morto outro arrecadador de recursos
para o PT, o ex-prefeito Celso Daniel, de Santo André?
Pensou na situação de desamparo em que ficariam a mulher e dois filhos caso
fosse obrigado a passar uma larga temporada na cadeia. E aí teve uma ideia.
Ainda no segundo semestre de 2005, quando Lula até então insistia com a
lorota de que mensalão era Caixa 2, Valério contratou um experiente profissional
de televisão para gravar um vídeo.
Poderia, ele mesmo, ter produzido um vídeo caseiro. De princípio, o que
importava era o conteúdo. Mas não quis nada amador.
Os publicitários de primeira linha detestam improvisar. Valério pagou caro
pelo vídeo do qual fez quatro cópias, e apenas quatro.
Guardou três em cofres de bancos. A quarta mandou para uma das estrelas do
esquema do mensalão, réu do processo agora julgado pelo Supremo Tribunal
Federal.
Renilda, a mulher dele, sabe o que fazer com as três cópias. Se Valério for
encontrado morto em circunstâncias suspeitas ou se ele desaparecer sem dar
notícias durante 24 horas, Renilda sacará dos bancos as três cópias do vídeo e
as remeterá aos jornais O Estado de São Paulo, Folha de S. Paulo e O Globo.
(Sorry, VEJA!)
O que Valério conta no vídeo seria capaz de derrubar o governo Lula se ele
ainda existisse, atesta um amigo íntimo do dono da quarta cópia.
Na ausência de governo a ser deposto, o vídeo destruiria reputações aclamadas
e jogaria uma tonelada de lama na imagem da Era Lula. Lama que petrifica
rapidinho.
A fina astúcia de Valério está no fato de ele ter encaminhado uma cópia do
vídeo para quem mais se interessaria por seu conteúdo. Assim ficou provado que
não blefava.
Daí para frente, sempre que precisou de ajuda ou consolo, foi socorrido por
um emissário do PT. Na edição mais recente da VEJA, Valério identifica o
emissário: Paulo Okamotto.
Uma espécie de tesoureiro informal da família Lula da Silva, Okamotto é
ligado ao ex-presidente há mais de 30 anos.
No fim de 2005, um senador do PT foi recebido por Lula em seu gabinete no
Palácio do Planalto. Estivera com Valério antes. E Valério, endividado, queria
dinheiro. Ameaçava espalhar o que sabia.
Lula observou em silêncio a paisagem recortada por uma das paredes
envidraçadas do seu gabinete. Depois perguntou: "Você falou sobre isso com
Okamotto?"
O senador respondeu que não. E Lula mais não disse e nem lhe foi perguntado.
Acionado, Okamotto cumpriu com o seu dever. Pulou-se outra fogueira. Foram
muitas as fogueiras.
Uma delas foi particularmente dramática.
Preso duas vezes, Valério sofreu certo tipo de violência física que o fez
confidenciar a amigos que nunca, nunca mais voltará à prisão. Prefere a
morte.
Valério acreditou que o prestígio de Lula seria suficiente para postergar ao
máximo o julgamento do processo do mensalão, garantindo com isso a prescrição de
alguns crimes denunciados pela Procuradoria Geral da República.
Uma eventual condenação dele seria mais do que plausível. Mas cadeia? E por
muito tempo?
Impensável!
Pois bem: o impensável está se materializando. E Valério está no limiar do
desespero.
Noblat
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