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sábado, 22 de abril de 2017

DEUS É FIEL


Há três meses, o morador de rua Wlademir Delvechio, 33 anos, alojou-se sob o Elevado Presidente João Goulart, perto do metrô Marechal Deodoro, em São Paulo.

Uma espécie de sala de estar. Tem mesinha com planta, tapete no chão. Um sofá fica de frente a dois armários, onde estão organizados os objetos pessoais. Roupas, pasta de dente, espelho, e, entre outras coisas, um boneco rosa da Peppa Pig. A maioria das coisas foi recolhida pelas ruas, no lixo. 
No colchão na calçada, gosta de ler gibis. 

- "Você olha pra sociedade e só vê maldade, aí vou pro gibi e a gente volta a ser criança.""Isso fortalece, é bom ter tudo limpo quando chego pra dormir. Sei bem que isso não é minha casa, casa e não é nada fácil acordar na rua. Você fica com medo até de você"."O que eu mais quero é sair da rua. Quem não quer ter um lugar pra acordar, escovar os dentes e ir pro trabalho?"
 
Essa morada atual simboliza uma luta pessoal de Delvechio contra o crack. Nascido em Osasco, o vício começou quando ainda era jovem, na cidade de Ilha Comprida (litoral sul paulista), onde cresceu com a família. Já trabalhou como carpinteiro, pedreiro e teve até um lava rápido, diz ele. Conta que recebeu uma pedra de crack de um traficante e aprendeu a fumar. Longe do crack havia duas ou três semanas. Não sabe bem ao certo o tempo de abstinência. 

- "A droga é maldade", diz. "Mas eu tenho minhas recaídas, estou sozinho e a solidão não é fácil. É muito louca a caminhada."

Tatuagens no braço e nas costas lembram os dois filhos, de 8 e 16 anos. Nunca mais os viu. 

- "A gente cai na droga, como vai ter sua família?", diz, emocionado. "Só queria que eles soubessem que, apesar de tudo, eu sobrevivi".

Impressionante a placa "Deus é Fiel". A moça já existia grafitada na coluna do Elevado.

Folha

Viver é Perigoso

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