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quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A CARTINHA


Depois de longo e tenebroso inverno voltou à tona o extraordinário instrumento de comunicação chamado de carta.
Aliás, enquanto escrevo esta cartinha, o Michel Temer deve estar jantando, sob a luz de velas, com a Dilma, no Palácio do Alvorada. Face to face, com uma música ao fundo, repassando parágrafo por parágrafo a missiva que abalou o país.
Bons tempos na terrinha quando as cartas decretavam definitivos rompimentos e registravam juras de amor.
Fazer as pazes por carta ? Jamais.
Pazes, obrigatoriamente, tinham que ter olhos úmidos, mãos entrelaçadas, beijos e abraços e risos bobos.
Nada de jantar, muito menos à luz de velas. Quando muito, uma esfiha no Chinês.Todos numa pindaíba de dar gosto. 
Um grande amigo, quando ainda na Escola de Engenharia, terminou com a namorada. Acho que foi ela que deu o fora. 
Apaixonados e turrões. Ficaram meses separados. Um belo dia se encontraram, os olhos se cruzaram e os sentimentos precipitaram.
O reencontro foi na Praça Theodomiro Santiago, palco de grandes batalhas amorosas. Outro amigo, desta vez, um abelhudo, se posicionou atrás de uma árvore e relatou o que ouviu. Divino.
- Querida, quão (isso mesmo) bobos nós fomos.
- Querido, quantas noites de insônia.
- Querida, nos últimos meses não vivi. Era como um zumbi caminhando pela Rua Nova
E seguiu por aí afora.
Como era difícil escrever naquelas folhas sem pauta. Era um sobe e desce de morro sem fim. E os garranchos ? E tem mais, ler "Felis" dói. "Presado", dói mais ainda.
Gotinha de "toque de amor" da Avon, só nas cartinhas delas para eles, que quando muito colocavam no envelope (aéreo,claro) um papelzinho da embalagem de "Sonho de Valsa", dobradinho e com um nozinho no meio. Ficava guardado dentro de um livro para todo o sempre.
Lembro-me das últimas linhas da derradeira carta que recebi.
"...e ficamos por aqui. Você toca a sua vida que vou tocar a minha. Por favor não me procure mais e evite cruzar comigo no mesmo passeio. Você foi um atraso na minha vida. Adeus para nunca mais".
Ah ! reencontramos outro dia na Estação Rodoviária de São Paulo.
Virou o rosto, levantou o queixo e segurando pelas mãos duas crianças, que imagino, netos, murmurou alto:
Cretino !
E a vida...

Viver é Perigoso

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