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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

É DISCO QUE EU GOSTO


Um comentário:

Anônimo disse...

“Irene” é uma das últimas canções compostas no Brasil por Caetano Veloso, antes do exílio em Londres. Irônica, pois melancólica e eufórica, afirma autobiograficamente que “eu não sou daqui”, “eu não tenho nada”. Evoca, no entanto, o sorriso da irmã Irene, da qual se despede: “quero ver Irene dar sua risada”. Como se a ouvíssemos no tempo real do estúdio de gravação, uma interrupção no meio da música, simulando erro num dos acordes instrumentais, recontagem do tempo (um, dois, três...) e reinício do registro fonográfico, traz à imaginação o ambiente informal e descontraído entre os músicos, ambiente este que se transfere ao clima de encontro, ou a uma reunião de despedida em família. Lírica, a canção “Irene” é recordação de um momento crucial na vida. Realiza-se como se fosse uma “consagración del instante”, na intuição do poeta mexicano Octavio Paz. A letra, realizada em forma de epigrama, gira em torno do mesmo assunto, volta e revolta ao mesmo tema, como o pulsar de uma melancolia insistente, latejante.
Na sonoridade das palavras, esse pulsar realiza-se por um admirável jogo de aliterações: o estribilho se faz pela repetição em eco, pois seis vezes, do segmento “Irene ri” (irenirri, irenirri, irenirri, irenirri, irenirri, irenirri), com o prevalecimento da ironia anunciada: a despedida (ir) e o sorriso (ri). No jogo aliterativo, o som “i” reitera-se por dezoito vezes e o “r” apenas muda de posição (ir-ri). Esse encadeamento sonoro se amplia em “ke-ro-ve-ri-re-ni dar sua ri-za-da”, várias vezes repetida:
Texto de Romildo San'tana

Poeta é poeta. Aproveita qualquer momento para que ele se transforme em arte. Amo Caetano!Ele sabe das coisas...
Bah