"... Em troca do silêncio, (Marcos Valério) recebeu garantias. Primeiro, de
impunidade. Depois, quando o esquema (do mensalão) teve suas entranhas expostas
pela Procuradoria-Geral da República, de penas mais brandas".
E quais seriam essas garantias? Vamos pensar juntos. Não é difícil
percebê-las
Primeira presunção de garantia: controlada pela maioria governista, comandada
por um presidente do PT (Delcídio Amaral) e um relator do PMDB (Osmar
Serraglio), a CPI dos Correios não daria em nada que pudesse produzir maiores e
concretas consequências.
Segunda: a Polícia Federal sob as ordens do dublê de ministro da Justiça e
advogado do Palácio do Planalto, Márcio Thomaz Bastos, cuidaria de limitar as
investigações sem levá-las a inconvenientes profundezas.
Terceira: indicado e reconduzido ao cargo pelo presidente da República, o
procurador-geral se apresentasse denúncia não o faria de maneira
consistente.
Quarta: de composição majoritária teoricamente "governista" e de inescapável
apego a formalidades, o Supremo Tribunal Federal não abriria processo.
Quinta: complexa e ampla demais, a denúncia não se sustentaria na fase
judicial e poderia se estender à eternidade em decorrência de manobras da
defesa.
Sexta: o julgamento não ocorreria tão cedo e, quando acontecesse, crimes
estariam prescritos.
Sétima: permeável à influência dos comandantes da banda, a Corte de "maioria
governista" teria comportamento de poder subordinado. Seja para absolver os
acusados ou para lhes abrandar as punições, conforme a promessa feita a Marcos
Valério sobre o pior que lhe poderia acontecer se calado ficasse.
Como a realidade mostrou e ainda não se cansou de demonstrar, o Brasil não é
tão arcaico, desorganizado, institucionalmente desqualificado nem tão apinhado
de vendidos como supunha o PT ao assumir a Presidência da República."
Dora Kramer
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