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segunda-feira, 11 de julho de 2011

JÁ FOMOS BONS NISTO

Deu no "Hoje em Dia"

Dois municípios prósperos, uma raiz comum. O pioneirismo na geração de energia elétrica no Sul de Minas certamente explica porque Poços de Caldas gera o maior Produto Interno Bruto (PIB) e possui a maior frota de veículos por habitante da região, ao passo que Itajubá detém o maior mercado de imóveis e o maior número de adultos em idade produtiva com curso superior.
Há mais de 100 anos, essas cidades deram a partida em geradores e turbinas de hidrelétricas. Moradores visionários perceberam na época o que hoje parece óbvio: sem energia, nada acontece. Esses cidadãos se mexeram para buscar a tecnologia de que o país não dispunha para juntá-la ao grande potencial hidráulico existente na natureza local.
As senhoras centenárias hidrelétricas mineiras não têm a mesma potência de suas sucessoras, não competem com a grandiosidade das barragens construídas nas últimas décadas, mas exibem a força das obras que mudaram a história, capazes de impressionar até o mais moderno e sofisticado dos engenheiros dos tempos de hoje. Que o diga Geraldo Lúcio Tiago Filho, de 55 anos, professor doutor em eletricidade pela Universidade Federal de Itajubá (Unifei) e assumidamente seduzido pela beleza turbinada da Usina Luiz Dias, situada a 18 quilômetros do campus.
É na Luiz Dias que o professor ensina engenharia elétrica. Já levou para as instalações da usina centenas de alunos por acreditar que não há em nenhum lugar laboratório tão apropriado para o aprendizado do novo do que o contato in loco com o passado.
Um convênio entre a Unifei e a Cemig, atual detentora da concessão da hidrelétrica, foi firmado em 1998 e vigorou até pouco tempo. A estatal retomou o controle da unidade e resolveu interromper a geração. Por trás das portas fechadas da antiga construção, que lembra uma igrejinha, dormem os barulhentos e incansáveis geradores de outrora. O custo para manter a hidrelétrica funcionando não compensa diante dos modestos 2,4 Megawatts de potência efetiva.
Líder da criação do Parque de Alternativas Energéticas para o Desenvolvimento Autossustentável (Paeda), que funcionou durante o convênio entre a Cemig e a Unifei e recebeu mais de 9 mil visitantes, o professor destaca o potencial de difusão de tecnologias alternativas de energia do complexo de usinas de Itajubá.
“O Paeda ficava dentro do sítio hidrológico da usina no Rio São Lourenço Velho e, além da opção de um grande passeio em contato com a natureza, oferecia cursos em Agroenergia. Como nosso maior público sempre foi de estudantes, priorizávamos informações sobre a importância das energias renováveis e da preservação dos recursos naturais”, diz.
O superintendente de Geração da Cemig, Stéfano Michelstadter Júnior, explica que a Luiz Dias está fechada para reforma e que um projeto de recuperação da usina já foi entregue à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). “Acredito que até setembro tenhamos um parecer, em seguida a licitação e, por fim, as obras no início do ano que vem”, diz. Ele reconhece que a hidrelétrica pode vir a ser um cartão-postal para a própria Cemig, além de abrigar aulas da Unifei.
Segundo Michelstadter, o objetivo principal da reforma da Luiz Dias é tornar a usina viável economicamente. Um dos itens do projeto é automatização, permitindo que a hidrelétrica seja supervisionada de modo remoto.
Vanguardistas, ambiciosos e sonhadores, homens como o capitão Luiz Dias, Teodomiro Santiago e o próprio Wenceslau Brás desenharam uma parte significativa do futuro do Sul de Minas. Basta conferir a coincidência das datas. O Instituto Eletrotécnico e Mecânico de Itajubá, que deu origem à Unifei, foi inaugurado em 1913, um ano antes da Usina Luiz Dias. Logo em seguida, foi implantada a Indústria Brasileira de Armamento Bélico (Imbel), que justificou a construção da Usina Wenceslau Brás, destinada a fornecer energia elétrica exclusivamente para as fábricas de armas de Itajubá e de Piquete (SP).
O homem das letras, Teodomiro Dias foi um dos introdutores das aulas práticas no ensino brasileiro e fundador do embrião da Unifei. Mas a escola e seus laboratórios não funcionariam sem a oferta da energia gerada pela Luiz Dias. Teodomiro iria precisar muito mais do que boa lábia para convencer professores alemães e franceses bem sucedidos em seus países a se mudarem de mala e cuia para o interior do Brasil para lecionar em uma escola recém-criada em uma certa cidade de nome Itajubá, na época com apenas 6 mil habitantes.
Porém, entre outros atributos, a pequena cidade do Sul de Minas gozava do status de ter sido o 10º município brasileiro a ser iluminado por luz elétrica, e isso causava uma boa impressão. A eletrificação da cidade havia começado com a inauguração de uma pequena usina na Serra dos Toledos, em 1907, que inflou o orgulho e a ambição dos moradores mais influentes.
Foi assim que o capitão Luiz Dias e o major Antonio Ferreira Pereira idealizaram, em 1911, a construção de uma segunda usina hidrelétrica com capacidade para abastecer várias cidades do tamanho de Itajubá naquele período. O local escolhido foi uma corredeira com 28 metros de desnível, vazão de 12 metros cúbicos por segundo num trecho do Rio São Lourenço Velho com 860 metros de altitude.
Para a instalação da nova usina, batizada de Lourenço Velho, todos os equipamentos e técnicos, como Emílio Klinger, Franz Tribst e Adolf Tribst vieram da Alemanha. Entusiasmados com o trabalho e a receptividade da população local, acabaram ficando em Itajubá, onde constituíram família e viveram o resto da vida.
A atual Hidrelétrica Antonio Dias entrou em operação em 1914. Em 1927, foi instalada a terceira e última unidade. Durante esse tempo, o então Instituto Elétrico e de Mecânica teve exclusivamente professores estrangeiros por falta de acadêmicos brasileiros nessa área. Contam os moradores mais antigos da cidade que esta relação dos alunos com os professores alemães e franceses não foi fácil no começo, mas acabou servindo de estímulo ao aprendizado de idiomas estrangeiros pelos estudantes locais.
A saga dos homens e suas máquinas que chegaram de navio no Rio de Janeiro, tomaram o trem para a cidade de Maria da Fé, de onde montaram em carros de boi e no lombo de burros até o canteiro de obras da Usina de Lourenço Velho...

Hoje em Dia (trecho)






















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