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sexta-feira, 5 de maio de 2023

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL


É inquestionável que a IA é uma ferramenta com um potencial gigantesco, que pode ser bem ou mal utilizada, e por esta razão deve ser regulada para ter uma abordagem responsável.

Contradizendo o próprio nome, a AI de inteligente não tem nada. Acumular informações e replicar padrões não é ser inteligente: é ser obediente.

Faltam à IA criatividade, malícia, rebeldia. Falta à IA Nelson Rodrigues, falta alcançar a alma. Faltam curiosidade, opinião, uma ideia, a mudança de ideia. Faltam uma brasilidade, uma malandragem, uma preguiça, sotaques. Faltam, nessa inteligência fabricada, o feminino e o charme. Faltam Leila Diniz, Fernanda Young e Clarice Lispector; faltam o nonsense e a lucidez. Falta caetanear, filosofar, se misturar, compreender, exagerar, alquimiar.

A IA não teve infância. Já nasceu adulta, evoluiu com ideias prontas, com o cérebro pronto, pré-moldado. Acredita sem questionar, tem memória, mas não tem lembrança. Não muda com as fases da Lua. A IA não tem permissão para errar, pois sua existência só se justifica se funcionar o mais perto possível da perfeição e tiver respostas para tudo. Mas os chatbots têm dado suas gafes. O GPT, por exemplo, já matou pessoas vivíssimas, confundiu épocas e personalidades, levando muitos alunos a tirar notas baixas nos trabalhos.

Mais do que nunca, somos instados a usar a nossa inteligência analógica para metabolizar com sabedoria as mudanças dessa tecnologia digital e não deixar que nossos circuitos se atrofiem diante dela.

Becky S. Korich - Folha de São Paulo

Viver é Perigoso

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