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sábado, 16 de abril de 2022

DA PAIXÃO AO ÓDIO


Nos anos 50 e 60, Magali chorava ao ouvir " Only You ". Uma vizinha dada a conversa fiada, dizia que tinha presenciado a Magali ouvir, de joelhos, o " The Platters " interpretar a canção.

Ela e a música, foram apresentadas no final dos anos 50. Inesquecível, quando o Mauricio a tirou para dançar numa "brincadeira dançante" no Diretório Acadêmico.

Maurício, estudante de engenharia, prestes a se formar e professor particular de inglês, a conduziu pela salão, olhos nos olhos, traduzindo a letra.

Para Magali foi ao céu.

Ainda dançaram quase o disco todo. "My Prayer", " The Great Pretender " e "You Never Know". Mas nenhuma delas fez sentido. "Only You" penetrou e alojou-se no cérebro para sempre.

Em 1961, nem se importou ao ler na Revista do Rádio que o vocalista Tony Willians havia deixado o conjunto para tentar a carreira solo.

Seguiu a vida ouvindo suas três gravações. Um LP, um 78 rpm e um compacto simples, que só não furaram pela qualidade do vinil.

Fechava os olhos ao ouvir a canção e vislumbrava Mauricio murmurando: "Só você, pode fazer a escuridão brilhar. Pois é verdade, você é meu destino. Quando você segura minha mão, eu entendo mágica que você faz."

Pisoteou transtornada os discos até o maior fragmento ficar do tamanho de uma unha, ao ler na coluna social do jornal "O Sul de Minas", uma nota sobre o casamento do Maurício em Manaus, com direito a foto.

Interessante. Não sentiu raiva do Maurício, mas sim um ódio mortal da música "Only You".

Seguiu a vida solitária, ultimamente com a companhia da Alexa (assistente virtual desenvolvida pela Amazon), com músicas gospel.

A vida virou um inferno com vizinha fofoqueira, companheira de idade e conhecedora da origem do ódio, que contou a história para os estudantes da república vizinha.

Vira e mexe gritam: Alexa ! toque "Only You".

Viver é Perigoso

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