Ser político é engolir sapos e não ter indigestão.
É aprender a sofrer humilhações todos os dias, em pequenas doses, até ficar completamente imune à ofensa global.
É esvaziar a tragédia atual com uma demagogia repetida de tragédia antiga.
É ver o que não existe e olhar, sem ver, a miséria existente.
É não ter religião e por isso mesmo cortejar a todas.
É no meio da mais degradante desonra, encontrar uma saída honrosa.
É nunca pisar nos amigos sem pedir desculpas.
É correr logo para a bilheteria quando a alguém grita que o circo pega fogo.
É flexionar a espinha, a vocação e a alma em longas prostrações ante o poder como preparação do dia de exercê-lo.
É recompor com estoicismo indignidades passadas projetando para história uma biografia no mínimo improvável.
É tentar nobremente a redistribuição os bens sociais, começando, é natural, por acumulá-los, pois não se pode distribuir o pão disperso.
E assim, por conhecer profundamente a causa pública e a natureza humana, estar sempre pronto a usufruir diariamente o gozo de pequenas provações e a sofrer na própria pele insuportáveis vantagens.
Millôr
Viver é Perigoso
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