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sexta-feira, 13 de agosto de 2021

LUZ NEGRA

 



Maria d'Apparecida Marques, nasceu no Rio de Janeiro em 1935. Filha de uma empregada engravidada pelo filho do patrão, nunca foi adotada legalmente e não conheceu o pai.

Começou como professora primária. Foi locutora de Rádio enquanto esperava se formar no Conservatório Brasileiro de Música no Rio de Janeiro. obteve experiência como atriz no Teatro Experimental do Negro.

Queria fazer carreira no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, mas lhe disseram que negra não cantava naquela casa. 

Ganhou um prêmio na Itália e resolveu então se expatriar para mostrar sua arte. Mais tarde radicou-se em Paris, aprimorando os conhecimentos adquiridos. Fez aperfeiçoamento no Conservatório nacional de música de Paris seguindo carreira como cantora lírica.

Em 1965, quando Maria Callas não pôde cantar Carmen, a mezzo-soprano negra brasileira a substituiu. Tornou-se a primeira negra latino-americana a interpretar a cigana Carmen na famosa peça de Georges Bizet, na Ópera de Paris.

Naquele mesmo ano, a montagem com ela foi apresentada no Municipal do Rio.

Conhecida internacionalmente como "a Maria Callas afro-brasileira" e ativa até a década de 1990, foi distinguida, na França, com homenagens e láureas oficiais, com como a "Chevalier de la légion d’Honneur". 

Mas seguiu duramente hostilizada no Brasil, não obtendo em vida o reconhecimento em seu próprio país sobre a grandiosidade de sua obra. Não deixou de enfrentar o racismo, expresso agora não como veto, mas com pequenos gestos de um cotidiano

Por quase uma década D’Apparecida circulou nos meios mundiais do canto com grande destaque. Um acidente de carro em 1974, interrompeu sua carreira lírica e a colocou na posição de cantora de Música Popular Brasileira e autora de um disco com o violonista Baden Powell.

Sobre Maria D`Apparecida, o poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu: 

“Tua voz, D’Apparecida, é aparição/ Fulgurante, sensitiva, dramática/ e vem do fundo negroluminoso de nossos corações”.

Teve uma relação com o pintor surrealista Félix Labisse que a retratou em pelo menos 14 quadros (anexo). 

D`Apparecida faleceu no dia 4 de julho de 2017 em Paris, sozinha. Foi encontrada por vizinhos duas semanas depois de ter tomado o barco. O corpo ficou por mais de 30 dias no Instituto Médico Legal de Paris à espera dos parentes, sem sucesso. Por fim, ficou decidido , que o corpo seria cremado e as cinzas, trazidas para o Brasil.

Viver é Perigoso

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