Nesta sexta-feira 13, depois de um longo e tenebroso inverno, sai para uma caminhada sem compromisso, da Boa Vista, é claro, para o movimentado bairro do Centro. Máscara, boné e passos firmes. Irreconhecível.
Pacientemente fui aceitando santinhos pelo caminho. Na rua Nova as algibeiras já estavam lotadas. Segui adiante acompanhado de democratas, republicanos, comunistas e outros mais, Santinhos e Santinhas.
Numa esquina do calçadão aconteceu o choque. Dei de cara com um falecido. Olhos azuis opacos e parados me fixaram.
Tenho certeza que ele havia tomado o barco no início da pandemia. Li no facebook e até enviei votos de "sincero sentimento" para um familiar dono da publicação.
Não tenho a mínima dúvida. Era ele. Quantas vezes nossos olhares não se encontraram no caixa do banco onde, quando mais moço e claro, vivo, trabalhava.
Me encarou como pedindo um documento para liberar um saque. Olhar frio e inquisitivo.
A sua máscara, de um roxo esmaecido, tinha bordas douradas.
Fui tomado pela certeza, que se tombassem para o queixo, uma vez que estava aparentemente folgada, surgiriam dois tufinhos de algodão.
Não fosse a companhia de um batalhão de santinhos e santinhas, entraria em pânico.
Perto do antigo "Pé de Porco", criei coragem, olhei ressabiado para trás e o vi se dirigindo lentamente para as barraquinhas na margem do Rio Sapucaí.
Viver é Perigoso
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