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sexta-feira, 13 de novembro de 2020

MENINOS, EU VI !

 


Nesta sexta-feira 13, depois de um longo e tenebroso inverno, sai para uma caminhada sem compromisso, da Boa Vista, é claro, para o movimentado bairro do Centro. Máscara, boné e passos firmes. Irreconhecível.

Pacientemente fui aceitando santinhos pelo caminho. Na rua Nova as algibeiras já estavam lotadas. Segui adiante acompanhado de democratas, republicanos, comunistas e outros mais, Santinhos e Santinhas.

Numa esquina do calçadão aconteceu o choque. Dei de cara com um falecido. Olhos azuis opacos e parados me fixaram.

Tenho certeza que ele havia tomado o barco no início da pandemia. Li no facebook e até enviei votos de "sincero sentimento" para um familiar dono da  publicação.

Não tenho a mínima dúvida. Era ele. Quantas vezes nossos olhares não se encontraram no caixa do banco onde, quando mais moço e claro, vivo, trabalhava.

Me encarou como pedindo um documento para liberar um saque. Olhar frio e inquisitivo.

A sua máscara, de um roxo esmaecido, tinha bordas douradas.

Fui tomado pela certeza, que se tombassem para o queixo, uma vez que estava aparentemente folgada, surgiriam dois tufinhos de algodão.

Não fosse a companhia de um batalhão de santinhos e santinhas, entraria em pânico.

Perto do antigo "Pé de Porco", criei coragem, olhei ressabiado para trás e o vi se dirigindo lentamente para as barraquinhas na margem do Rio Sapucaí.

Viver é Perigoso 

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