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domingo, 2 de agosto de 2020

PRISIONEIRO DE UMA GERAÇÃO



Ruy Castro escreveu:

Telegrama internacional informa que Burt Bacharach, pianista e compositor, acaba de lançar uma canção: “Bells of St. Augustine”, balada “jazz-pop, suave e melancólica”. Para quem gosta de música, é boa notícia - toda nova canção é bem-vinda e mais ainda por ser de Bacharach. 

Triste é saber que é sua primeira desde 2005. O que ele andou fazendo nesses 15 anos para só agora, aos 92, nos brindar com uma música? Fechou o piano e, quando o abria, era só para repassar antigos sucessos para os amigos?
Bacharach, tanto quanto Tom Jobim, Henry Mancini e Lennon e McCartney, compôs a trilha sonora dos anos 60. De 1965 até o fim da década, não se passava um mês sem uma de suas maravilhas, em parceria com o letrista Hal David.

Era impossível escapar. Com Dionne Warwick ou ele próprio, sua música estava no rádio, no cinema e nos toca-discos. Era uma saraivada de sucessos comparável à dos Beatles: 

“Close to You”, “Wives and Lovers”, “Reach Out for Me”, “Walk on By”, “A House is Not a Home”, “What the World Needs Now is Love”, “Alfie”, “Bond Street”, “The Look of Love”, “The Windows of the World”, “I Say a Little Prayer”, “Do You Know the Way to San José?”, “This Guy’s in Love With You”, ”I’ll Never Fall in Love Again”, “Raindrops Keep Falling on my Head”. 

Foi quando, por algum motivo —talvez por querer uma música mais adulta—, desembarquei de Bacharach.

Não que sua música não fosse adulta. Ao contrário, a beleza melódica, sofisticação harmônica e leveza rítmica só tinham equivalentes na bossa nova. Mas Bacharach criara um som tão pessoal e “jovem” que parecia exclusivo dos meninos daquela geração. De repente, amadurecemos e o deixamos para trás. Ouvir Bacharach, hoje, é uma viagem.

A pergunta certa seria: o que ele andou fazendo desde 1970? Música, certamente. Mas talvez adulta demais para os meninos que se seguiram, fãs de rock e de mais nada.

Viver é Perigoso

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