João estava com dor de cabeça. João tomou suco de laranja. A dor de cabeça de João passou.
Podemos afirmar que a dor de cabeça de João passou porque ele tomou suco de laranja?
A resposta é não.
Dizer que sim é criar uma falsa correlação de causa e efeito.
Isso é o que se chama de "evidência anedótica", informal, sem valor científico. E o erro de lógica usado para se chegar nessa "evidência" é uma falácia lógica, chamado também de correlação coincidente ou, em latim, post hoc ergo propter hoc ("depois disso, logo, causado por isso"), explica o cientista David Grimes, autor do livro The Irrational Ape, sobre desinformação relacionada a ciência.
Bolsonaro reuniu médicos entusiastas da hidroxicloroquina e membros do governo para uma cerimônia em defesa do uso do medicamento no combate à doença, apesar de não haver indícios de sua eficácia (24/08, em um evento no Palácio do Planalto chamado "Brasil vencendo a covid-19", com o país chegando a quase 115 mil mortos) - e mais, haver indícios de que, pelo contrário, ela não funciona e seu uso pode trazer efeitos colaterais para pacientes.
"Não tem comprovação científica, mas salvaram muitas vidas", alegou o presidente no evento, sem apresentar provas disso. Ele disse, ainda, que observou que quem tomava o medicamento desde o início tinha "mais chance" de sobreviver. Citou seu exemplo pessoal e o de "mais de dez ministros que se trataram com a medicação". "Nenhum foi hospitalizado. Então, está dando certo."
A fala de Bolsonaro é o exemplo concreto do que é uma evidência anedótica. Primeiro, a grande maioria das pessoas com a covid-19 sobrevivem. Como saber que o presidente não sobreviveria de qualquer forma sem a hidroxicloroquina? Além disso, ele foi tratado só com hidroxicloroquina? Seus ministros também? E se não tivessem tomado nada? Como estabelecer uma correlação direta sem um estudo clínico sério? Caso Bolsonaro tenha tomado suco de laranja durante o tratamento, seria possível dizer que foi o suco de laranja que o curou?
"A covid-19 é uma doença com 90% de taxa de cura espontânea. Ou seja, a doença pode se resolver sozinha, mas o mérito vai para o remédio?"
"Dizer: 'Eu tomei cloroquina e, portanto, me curei' está errado. As duas coisas podem ter acontecido simultaneamente, o que não quer dizer que uma foi a causa da outra. Não existe relação de causa e efeito."
Aliás, em relação a hidroxicloroquina, já estamos em uma etapa de dizer "nós já demonstramos que não tem efeito para a covid-19, e que ninguém se cura desta doença por causa desse medicamento". Existem diversos estudos que trazem evidências de que a hidroxicloroquina não tem eficácia para a covid-19.
Extraído da BBC
Viver é Perigoso
4 comentários:
NEMUMA LINHA SOBRE O FECHAMENTO DA RÁDIO DO PRIMO?
Rádio do Primo
Caso exista algo irregular, cumpra-se a Lei. Caminha para 8 anos que não ouço a emissora. Praticamente se tornou um veículo oficial do poder político instalado.
Zelador
http://www.diariodeitajuba.com/2020/08/por-irregularidades-ministerio-publico.html
Eitaaa.
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