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sexta-feira, 22 de novembro de 2019

É A VIDA...


E não é por falta de fé, muito pelo contrário. Mas a vida e o avanço da tecnologia tem levado a questionar, analisar e até decidir sobre momentos cruciais que nos cercam. Uma questão difícil de discutir.

Deu na Folha de São Paulo:

Algoritmos de inteligência artificial já são capazes de predizer a qualidade de vida futura de pacientes oncológicos graves, o que pode ajudar doentes, médicos e familiares a decidir por cuidados paliativos em vez de por terapias mais agressivas.

A conclusão é de um estudo inédito da Faculdade de Saúde Pública da USP realizado em dois hospitais oncológicos paulistas, com 777 pacientes com câncer avançado internados na UTI.

Os modelos acertaram em até 82% dos casos se o paciente vai viver mais ou menos de 30 dias com qualidade de vida —por exemplo, com dor e outros sintomas controlados.

Em dois anos do estudo, 66% dos doentes morreram, e 45% deles tiveram qualidade de vida de até 30 dias. A sobrevida média foi de 195 dias, dos quais 70 com qualidade de vida.

O trabalho científico, o primeiro sobre predição de qualidade de vida de doentes com câncer, foi publicado no periódico científico internacional Journal of Critical Care.

Hoje, há algoritmos que fazem boas previsões sobre as chances de mortalidade desses pacientes, mas não conseguem prever com precisão a qualidade de vida deles até o fim.

Essa informação, segundo os pesquisadores, é importante para se decidir se vale a pena insistir em mais tratamentos ou partir para os cuidados paliativos —atualmente recomendados para serem iniciados tão logo haja o diagnóstico de uma doença incurável.

“Os médicos ficam com um pé atrás se o melhor é investir na qualidade de vida ou continuar com tratamentos agressivos. É sobre essa decisão que a gente está tentando ajudar com inteligência artificial", diz Alexandre Chiavegatto Filho, professor da USP e coordenador da pesquisa.

O estudo foi feito em parceria com médicos intensivistas do HCor (Hospital do Coração) que já estudavam a sobrevida e o tempo de qualidade de vida dessa coorte de pacientes.

Segundo a pesquisadora Hellen Geremias dos Santos, autora principal do estudo, "hoje há uma discussão sobre até que ponto vale a pena admitir um paciente com câncer, gravemente enfermo, em uma UTI, o quanto isso vai trazer um benefício adicional a esse paciente, ou se vale a pena realizar o cuidado paliativo no domicílio”. 

Para a médica Maria Goretti Maciel, diretora do serviço de cuidados paliativos do Hospital do Servidor Público Estadual, preditores baseados em sinais físicos são importantes, mas é fundamental levar em conta questões subjetivas que envolvem a pessoa com um câncer avançado.

“Cadê a percepção do doente? Ou de alguém muito próximo dele, se ele não puder falar? Às vezes, o doente tem um estímulo a mais e isso muda a tua decisão. Quando você só usa isso [modelos matemáticos], você perde toda a subjetividade da decisão.”

Ela cita o psiquiatra espanhol Diego Gracia, uma dos maiores pensadores atuais na bioética, que diz que toda decisão implica naturalmente na observação dos fatos, mas ela jamais será prudente se, junto com isso, não forem observados os valores.

“Durante todo o processo de deliberação sobre cuidados paliativos, a gente se apoia também em dados clínicos, mas também em valores do paciente, da família, em intuição da equipe. Isso se chama arte médica. Se você usa somente fatos clínicos para te apoiar na decisão, você perde metade da sua capacidade de decisão.”

Viver é Perigoso

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