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sábado, 26 de janeiro de 2019

BOCA NO TROMBONE



Escreveu o Ruy Castro:

Ouço com frequência no rádio e na TV que as pessoas estão botando a boca no trombone. As mulheres vítimas de assédio ou estupro estão botando a boca no trombone. Os praticantes das delações premiadas estão botando a boca no trombone. A imprensa está botando a boca no trombone. O povo está botando a boca no trombone.

Não concordo com a imagem do trombone. Dá a entender que ele é um instrumento de alerta, feito para tocar alto e despertar os distraídos. Mas, embora seja um componente importante de desfiles militares, bailes de Carnaval e charangas de torcidas, o trombone não nasceu para fazer barulho. 

Aprendi isto escutando o trombonista americano Tommy Dorsey. Seu megassucesso dos anos 30 e 40, o fox “I’m Getting Sentimental Over You”, de George Bassman e Ned Washington, tinha um longo solo de trombone. 

Dorsey o tocava com tanta suavidade que era como se não precisasse respirar. Aliás, era o que pensava o crooner de sua orquestra, o jovem Frank Sinatra. 

Esperando sua vez de cantar, Sinatra ficava sentado bem atrás de Dorsey enquanto este tocava de pé, na frente do palco. - “Eu observava o paletó de Tommy, esperando que inflasse e desinflasse. Mas ele nem se mexia!”, disse Frank.

Viver é Perigoso

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