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sábado, 17 de março de 2018

A COMÉDIA DA VIDA


Charles Chaplin foi enterrado no dia 27/12/1977 no cemitério Corsier-sur-Vevey, na Suiça. Seu corpo foi sequestrado no do 01/3/1978.

Dois homens passaram duas horas cavando a terra, carregaram o caixão em sua caminhonete e fugiram sem nem mesmo se preocupar em tapar o buraco. Os profanadores deixaram o monte de terra ao lado do buraco para que a polícia o descobrisse na manhã seguinte. 

Durante dez semanas, a polícia suíça e a Interpol praticamente não encontraram pistas além de telefonemas anônimos.

O país mais neutro da Europa viu sua aprazível existência sacudida por um crime tão macabro que, durante essas dez semanas sem notícias, o mundo quis encontrar um sentido perverso, místico ou político ao que havia ocorrido. 

Mas a realidade, por uma vez, não superou a ficção, e a resolução do crime acabou sendo muito mais vulgar, mundana e delirante do que qualquer fascinante teoria da conspiração.

Os autores do roubo eram dois ladrões baratos, tão inexperientes e desesperados que primeiro pediram um resgate e depois começaram a negociar o valor, informando, com assombrosa precisão, que telefonariam novamente para a residência dos Chaplin para renegociar o resgate em 17 de maio às 9h30. 

A polícia lançou uma operação de vigilância sobre mais de 200 cabines telefônicas de Lausanne e assim conseguiu deter Roman Wardos, um polonês de 24 anos, e depois seu cúmplice Gantscho Ganev, um búlgaro de 38.

Esses dois mecânicos confessaram que, pressionados por sua precária situação econômica, tinham começado a pensar em cometer um crime que resolvesse seus problemas sem usar a violência.

Wardos, o cérebro (para dizer de alguma forma) da operação, foi condenado a quatro anos e meio de trabalhos forçados e Ganev, a 18 meses. Ambos enviaram uma carta de desculpas a viúva Oona Chaplin, que os perdoou sem titubear. 

Mas não se levantem de suas cadeiras ainda, porque ainda falta a resolução final: onde, afinal, estava o cadáver? Os ladrões só recordavam que o haviam enterrado “em um campo de milho”. A chuva tinha feito com que as plantas crescessem profusamente e, depois de vários dias de busca, a polícia o encontrou em uma plantação de trigo a um quilômetro da mansão dos Chaplin.

Uma paisagem tão bonita que a própria viúva exclamou que, de certa forma, era uma pena retirá-lo dali. Mas ele foi retirado. Preferiram sepultá-lo em seu túmulo original e cobri-lo com concreto, como um féretro maldito, em vez de terra.

O agricultor, por sua parte, ficou furioso com o sacrilégio perpetrado em seu terreno, mas depois acabou instalando nele uma placa comemorativa:
“Aqui descansou Charles Chaplin. Brevemente”.

(El País)

Viver é Perigoso

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