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sexta-feira, 10 de março de 2017

PREFERENCIAL

Numa pequena e pacata cidade do interior, sabe-se lá por qual razão resolveram colocar toda a sinalização de trânsito no próprio piso das ruas e avenidas. Caprichosamente pintados com tintas brancas e amarelas.
Os apoiadores deram vivas pela praticidade e provável economia do projeto. Uma meia dúzia de oposicionistas que já foram de esquerda e da direita e atualmente se situam no centro, murmuram que se trata de tentativa de levar o povo a andar olhando para baixo. Já a maioria absoluta constituída de neutros, simplesmente, acham que tal decisão se deu pela necessidade da Administração de colocar em uso um equipamento próprio, adquirido sabe-se lá por quem, para pintar ruas.
Precavidos, os responsáveis pela sinalização providenciaram a marcação de gigantescos "Pare" em movimento cruzamento. Claro, talvez por dúvida, a marcação foi feita nas quatros esquinas.
Como tão somente poderia acontecer num lugarejo de motoristas cuidadosos e educados, aconteceu.
No horário de pico (pequenas cidades também os tem), carros vindos das quatros direções, se encontraram.
Os motoristas, chamaremos de 1, 2, 3 e 4, obedeceram a nova sinalização e pararam. Silêncio somente tolhido pelo ruído dos motores em marcha-lenta.
Nada de decisão.
O motorista 1, um senhor com todo o jeito de funcionário do Bradesco, gentilmente fez um aceno com a cabeça para a simpática motorista 2, sugerindo que ela fosse adiante. Ela, com um sorriso enigmático de Monalisa, agradeceu, ia partir, mas foi levada a frear bruscamente. A motorista 3, já aparentando certa idade, havia entendido que os idosos teriam preferência e avançou meio aos solavancos (o carro não tinha câmbio automático). Suspendeu o avanço e fez um gesto de pedido de desculpas. Tudo voltou ao normal, com mais veículos acumulando-se.
O jovem motorista 4, de roupa branca, possivelmente Residente de Medicina indo para o hospital (claro, atrasado), resolveu avançar imaginando-se ser dotado de maior iniciativa. Errou, uma vez que o funcionário do Bradesco (imaginamos), agradecendo a todos, com o braço estendido fora da janela, avançou e conseguiu frear de imediato.
Todos respiraram fundo e voltaram a estaca zero.
Segundos para meditação e reiniciaram os procedimentos. O motorista 1 ...

É a vida...

Viver é Perigoso      

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