A decisão do STF de abrir inquérito contra o senador Valdir Raupp (pmdb) é uma das mais importantes de toda a avalanche da Lava Jato, porque cria um precedente e atinge em cheio a maior trincheira dos políticos para se defender: recibos e valores declarados oficialmente à Justiça Eleitoral não valem mais nada, ou valem muito pouco, pois não atestam a licitude do dinheiro nem a idoneidade do candidato.
Se os políticos já estavam desesperados por causa do caixa 2, entram em pânico com o próprio caixa 1.
Acabou o mantra a que recorrem dez entre dez candidatos quando os seus santos nomes são citados em vão, ou nem tanto, pelas dezenas de delatores que jorram denúncias e lama contra eles: "Todas as doações de campanha declaradas oficialmente à Justiça Eleitoral".
Isso agora entra por um ouvido e sai pelo outro de juízes, procuradores, policiais federais - e da mídia.
Pela decisão da Segunda Turma do STF, o que interessa não é só o destino do dinheiro, mas principalmente a sua origem. É aí que mora o perigo para os envolvidos: os vícios, abusos, desvios e maracutaias. Arranjar um papelzinho, rabiscar uma nota fiscal e lavar a trajetória do dinheiro passou a ser de pouca valia.
As investigações podem começar pelas declarações oficiais de campanha, percorrer o caminho inverso e desembocar num esquema em que o dinheiro saía de propinas e de contratos fraudados de órgãos públicos e empresas estatais.
O que parecia ser oficial e legal passa a ser ilícito e ilegal. Tudo muda de figura, o papelzinho vira lixo.
Eliane Cantanhêde - OESP.
Viver é Perigoso
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