Translate

terça-feira, 4 de outubro de 2016

CAPITAL DO NÃO VOTO


O sapateiro carioca José Luiz Rodrigues, de 53 anos, fez questão, pela primeira vez, de apertar o “branco” quando foi votar no domingo. “Não confio em ninguém. O político só saber roubar e aumentar impostos. Minha vida, no final de contas, ninguém muda, quem muda é Deus. Eu continuo aqui de 8h às 18h, com trombose na perna e ainda tendo que pagar um plano de saúde”, reclama. Não houve programa eleitoral, candidato nem bispo, que o convencesse do contrário. “Já me arrependi de votar em Lula, em Dilma e em todos”, encerra. 
Rio de Janeiro, a capital do não voto nessas eleições. A soma dos votos brancos e nulos e a abstenção, que foi de 24,28%, superou os votos conquistados pelos vencedores do primeiro turno Crivella e Freixo, juntos.
Em São Paulo, João Dória teve uma vitória avassaladora, uma conquista sem precedentes com mais de três milhões de votos. Mas também, os que não votaram em nenhum dos candidatos superaram os eleitores do empresário. 
Os dados chamaram a atenção até do presidente Michel Temer, que viu no resultado do pleito um recado. “É um sentimento de decepção com toda a classe política”.
Jairo Nicolau, cientista político e especialista em sistemas eleitorais, acredita que o alto número de abstenções confirma, na verdade, que o voto obrigatório não tem mais o peso que tinha sobre as pessoas e que as punições não são suficientes para levar o eleitor às urnas. “Mas não necessariamente trata-se de desinteresse ou um voto de protesto. Há idosos e analfabetos que têm o voto facultativo, há pessoas sem dinheiro para pegar um ônibus e ir a votar, registros eleitorais desatualizados que ainda contemplam falecidos”, diz ele. Para ele, os votos brancos e nulos são sim um sinal de descontentamento. “É um sentimento que começamos a ver em 2013, veio mais forte em 2015 e 2016 com as denúncias de corrupção e a crise do PT, que era uma espécie de reserva moral desse sistema político, e refletiu-se nessa eleição. É claro que aumentou o pessimismo das pessoas. Mas o que mais me assustou nessa eleição não foi uma pesquisa, senão a conversa com pessoas mais pobres que transformaram a insatisfação no não voto. É uma surpresa” , afirma Nicolau.
O elevado número de votos brancos e nulos e as abstenções viu-se em outras grandes capitais. Além de no Rio e em São Paulo, em Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Belém (PA), Cuiabá (MT), Campo Grande (MS) e Aracaju (SE) os votos brancos e nulos somados às abstenções venceram o primeiro turno nestas eleições. 

Maria Martin - El País

Viver é Perigoso

2 comentários:

marcos.caravalho disse...

Zélador,

Aqui vai, no palpitômetro, mais uma das causas para a grande quantidade de brancos e nulos, mantidas todas as demais analisadas pelos sociólogos e especialistas de plantão.

Muito partideco = muitas vagas = número escandaloso de pretendentes.

Listas de candidatos extenséssimas (já pensou SP?); lista do TRE em letra miúda, pior ainda alocadas (aquelaspregadas na parede ao fundo da cabine de votação é um deboche ...caso muitos eleitores resolvessem consultá-la(s), estaríamos com filas de votação até hoje).

Resumo da história: na hora do voto, os ainda indecisos, sem querer atrasar a fila, cravam logo um "em branco" ou simplesmente anulam-no. Mais fácil, muito mais rápido...e mantém a aparência de cumprimento do "dever cívico" (obrigatório).
A consciência não pesa quando pensam no passado, na "obra" dos vereadores (ou prefeito) anteriores - não vai mudar nada mesmo, devem pensar...
NOTA: Exceções - honrosas, se bem que minoritárias - consideradas.

Enfim: muitos candidatos (excessiva a quantidade de abnegados cidadãos que querem melhorar tudo nos costumes administrativos da cidade), pressa, dificuldade para procurar um nome/número conhecido ou mesmo localizar alguém (cadê a lista?!!) em quem depositam alguma esperança colaboram para gerar uma alto percentual de votos brancos e nulos.

As consequências? Quase ninguém dessa turma sabe.

Triste. Ma vero...
Abraço Ecos das Urnas

Edson Riera disse...

Marcos,

Concordo. Mas resumindo = Descrédito total.
A falta de educação cívica é um absurdo e acontece com maior intensidade nos andares mais alto do prédio chamado Brasil.
Conversei com pessoas, aparentemente bem esclarecidas, que votaram pela reeleição no domingo, por acharem que a cidade está arrumadinha. Outros tantos, durante a conversa, se declaração contra as reeleições, contra políticos profissionais, a favor da transparência absoluta, tudo isso, desde que não aplicadas no município.
Chegaria a ser cômico se não fosse trágico.
Sinceramente ? Não existe saída. A luta é para sobreviver com dignidade e rezar para ser tomado pela alienação.

Abraço,

Ze - lador