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sexta-feira, 5 de agosto de 2016

O ENTOJO


Talvez imaginasse ser uma Afrodite, ou talvez uma versão melhorada da Cleópatra. Melhor, uma Dalila ou Sherazade. 
Greta Garbo ? Bardot ? Elizabeth ? 
Nas segundas, severa como a Tatcher. Nas terças, firme como a Indira. Nas quartas, atenta como a Golda. Nas quintas, descontraída como uma Grace. Nas sextas, distante como uma Julie. Nos sábados, elegante como uma Jackie. No domingo, indefinida como uma Ingrid.
Nunca olhou para ninguém. Jamais cumprimentou alguém. Chegou, morou e não viveu na Boa Vista, apesar de tantos anos.
Poucos ouviram o tom da sua voz. Alguns, de passagem, sentiram o seu exclusivo perfume. Nunca entrou na Igreja São José, na Padaria Boa Vista, no Café Hélio, no Bazar Fukaiama, no armazém do Sr. Guilherme Cardoso, no Açougue Paratodos, an Farmácia São Luiz, na Sorveteria e Bar Caçador, consultou com o Dr. Adílio e tratou dos dentes com o Sr. Ademar Dentista e muito menos fez as unhas com a Dora.
Casada, solteira ou viúva ? Parentes próximos ? Aonde iria todos os dias com tanta pressa ?
Nome ?
Os fofoqueiros da Barbearia do Melinho diziam que era neta da Mulher de Bronze.
Um dia sumiu. Ficou conhecida por "Entojo". Mas que era bonita, a entojada era. 
Num dia abençoado cruzamos no mesmo passeio. Aconteceu em frente a Bicicletaria do Zé Rosa. Tinha ligeiras sardas. Passos cruzados. Hoje, seria a Gisele. Rapidamente retomei o fôlego.
Avistei-a hoje na Miguel Braga. Passos lépidos, elegante, e o tradicional nariz empinado. O tempo a poupou.
Não seria injustiça continuar sendo mencionada como "Entojo".

Viver é Perigoso

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