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quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

OS MARRETEIROS


O povo brasileiro andou assistindo por esses dias um festival de marretagens. Fuga para a Espanha, com Habeas Corpus e 50 paus por mês em troca de silêncio. Três votos na Comissão de Ética pelo engavetamento do processo de impeachment. 45 milhões para a colocação de um "jabuti" numa Medida Provisória. A exploração de uma plataforma petrolífera pelo pagamento das dívidas de um partido político.

Lembrei-me imediatamente dos "marreteiros" da terrinha, que trabalhavam com produtos próprios e de recomendada procedência.

Como não tinham sede ou algo assim (hoje fundariam uma ong), os marreteiros da cidade se reuniam, diariamente, à partir as 19:00 horas, debaixo da marquise do Bazar Fukaiama, mais conhecido como a loja do japonês.
Na Boa Vista, é claro. No cruzamento da Maria Carneiro com a Miguel Braga (êpa).
Para os que estão chegando agora, "marreteiros" eram os cidadãos viciados na arte de trocar objetos e "outras cositas mas". No popular, breganhar.
Após o início da sessão do Cine Paratodos, que iniciava às 19:30 horas, o pregão breganhista fervia. Razão: Os sapos palpiteiros entravam no cinema e deixavam o palco para os profissionais.
Altíssimo nível na arte de menosprezar os bens dos outros e megavalorizar os seus.
"Di menor" não entrava.
Explico: certa vez um moleque trocou o seu relógio por um isqueiro Ronson. No outro dia o pai foi, ao local, acompanhado pelo Cabo Tiãozinho, desfazer o negócio.
Quando o filme era proibido para maiores de 14 anos, eu costumava ficar assistindo o pregão. Pessoal manhoso. Fingiam que não se interessavam e seguiam negaceando, até a proposta final.
Assisti emocionado a troca de uma charrete, com égua e arreio, ser trocada por uma bicicleta Humber.
Presença marcante era a da Dona Izabel. Mulher forte e se preciso fosse, resolveria uma eventual pendenga no braço.
Boa de negócio. Só prejudicada pelo vício. Claro, breganhar pode se tornar um vício. Era o caso dela.
Certa noite trocou um belo conjunto de beleza facial Coty, com pó de arroz, esponjinha e loção, com certeza ganho nos "dia das mães", por um belo e útil canivete suíço. Um negocião.
Esclarecendo: Os marreteiros jamais diziam a palavra "troquei". Diziam: "Apanhei".
Diziam os fofoqueiros da Boa Vista (tinha um ou outro vindo de fora), que durante o dia, a Dona Izabel, em treinamento, trocava um objeto de um bolso esquerdo do avental, com outro colocado no bolso direito. Negociação demorada e difícil.
É a vida.  

Viver é Perigoso  

2 comentários:

Celem disse...

Bons tempos Zé, bons tempos. Cheguei a pegar algumas edições do marreta. Década de 60.Cada negociação daria uma boa história.
Abs.
Celem

Edson Riera disse...

Celem,

Uma grande mesa de negociações. Abraço.