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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O PRIMEIRO "SEM FUNDO"

 
"...Lembro bem meu primeiro cheque sem fundo: morador de pensão no Recife, fiz a graça de levar uma paquera, até prove em contrário a mulher da minha vida àquela altura do devaneio, para almoçar no “Leite”, o mais antigo restaurante do Brasil, aberto desde 1882.
Até hoje lembro do lombo de bacalhau do Porto Imperial que sujou meu nome. Chique no último essa forma de entrar no SPC, o velho Serviço de Proteção ao Crédito, naquele governo Sarney de 80% de inflação na rabiola. E olhe que a musa do Bongi –bairro da deusa- nem era de se impressionar com essas frescuras, como descobriria depois –tão vida simples, meu Deus! Coisa de matuto do interior alucinado por mulher da capital. Pense na tristeza do Jeca!
O segundo sem fundo também foi por amor, já em SP, anos 1990, mas deixa pra lá, só lembro que o jantar com champanhe me levou meio contracheque (holerite para os paulistas) e a orquídea que mandei para a casa dela me inscreveu direto na lista dos inadimplentes do Serasa. “Eu vejo flores em você!” Dias depois, foi mais lindo ainda: o governo Collor sequestrou uma grana que eu havia recebido do Fundo de Garantia da editora Abril, lá se foi meu FGTS..."

Xico Sá (para El País)

Viver é Perigoso

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