"...Lembrei então dos Cães de Pavlov.
Ivan Pavlov era um médico russo que fez um experimento interessante cerca de um século atrás. Reuniu alguns cães e começou a condicioná-los. Cada vez que chegava com comida, Pavlov tocava uma sineta, até um ponto em que, mesmo sem comida, bastava acionar a sineta para que os cães começassem a salivar. Ficavam com a boca cheia d´água só de ouvir o sino. Pavlov desenvolveu a ideia dos reflexos condicionados.
Todos temos reflexos condicionados, a maioria deles naturais. Diante da visão de um cachorro rosnando com os dentes à mostra, imediatamente ficamos com os músculos tensos. Estamos condicionados a preparar a fuga ou o enfrentamento diante de uma situação de perigo. No cinema é assim também: de tanto assistir a filmes de suspense, estamos condicionados. Quando aparece aquela musiquinha, já preparamos o susto. O gato vai pular! Mas também podemos ser intencionalmente treinados a reagir de forma condicionada a determinados estímulos.
O que aconteceu com nossa relação com as mídias foi isso então, anos de condicionamento recebendo más notícias, quebrando expectativas, vivendo desilusões nos treinaram para o que somos hoje: uma sociedade desconfiada, cética, que sempre espera o pior. Quase não há mais espaço para o deleite, para curtir uma boa nova, para acreditar que alguém está fazendo algo bom. O otimista, o que acredita, o que confia no bom, no belo, no justo, é um otário.
Parece impossível baixar a guarda e simplesmente curtir, saborear a notícia boa e compartilhá-la para que, por exemplo, outros governadores também abram mão dos aumentos. Há que se buscar o sofrimento, pintar o pior cenário, dizer que aquela boa notícia não merece crédito.
Como Cães de Pavlov, estamos condicionados a babar.
Isso sim é que é herança maldita. "
LUCIANO PIRES
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