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sexta-feira, 20 de março de 2015

CÃES DE PAVLOV

 
"...Lembrei então dos Cães de Pavlov.
Ivan Pavlov era um médico russo que fez um experimento interessante cerca de um século atrás. Reuniu alguns cães e começou a condicioná-los. Cada vez que chegava com comida, Pavlov tocava uma sineta, até um ponto em que, mesmo sem comida, bastava acionar a sineta para que os cães começassem a salivar. Ficavam com a boca cheia d´água só de ouvir o sino. Pavlov desenvolveu a ideia dos reflexos condicionados.
Todos temos reflexos condicionados, a maioria deles naturais. Diante da visão de um cachorro rosnando com os dentes à mostra, imediatamente ficamos com os músculos tensos. Estamos condicionados a preparar a fuga ou o enfrentamento diante de uma situação de perigo. No cinema é assim também: de tanto assistir a filmes de suspense, estamos condicionados. Quando aparece aquela musiquinha, já preparamos o susto. O gato vai pular! Mas também podemos ser intencionalmente treinados a reagir de forma condicionada a determinados estímulos.
O que aconteceu com nossa relação com as mídias foi isso então, anos de condicionamento recebendo más notícias, quebrando expectativas, vivendo desilusões nos treinaram para o que somos hoje: uma sociedade desconfiada, cética, que sempre espera o pior. Quase não há mais espaço para o deleite, para curtir uma boa nova, para acreditar que alguém está fazendo algo bom. O otimista, o que acredita, o que confia no bom, no belo, no justo, é um otário.
Parece impossível baixar a guarda e simplesmente curtir, saborear a notícia boa e compartilhá-la para que, por exemplo, outros governadores também abram mão dos aumentos. Há que se buscar o sofrimento, pintar o pior cenário, dizer que aquela boa notícia não merece crédito.
Como Cães de Pavlov, estamos condicionados a babar.
Isso sim é que é herança maldita. "

LUCIANO PIRES

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