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terça-feira, 9 de julho de 2013

CAMINHO DA ROÇA


Ontem à noite, sem nenhum objetivo determinado, estava passando uma vista nos três volumes da "A História Vivida"- Documentos Abertos, publicados pelo "O Estado de São Paulo", lá pelo final dos anos 70. Publica entrevistas concedidas por grandes personalidades brasileiras. O brilhante trabalho foi coordenado pelo jornalista Lourenço Dantas Mota.
No volume III, fui atraído pela entrevista do Dr. Euryclides de Jesus Zerbini, grande médico brasileiro, nascido na vizinha Guaratinguetá e chefe da equipe que realizou os primeiros transplantes de coração no Brasil.
Lá pelas tantas lhe foi perguntado sobre a concentração dos médicos nas grandes cidades brasileiras.
Respondeu o Dr. Zerbini, em 30 de setembro de 1979:

- Peguemos o caso de uma pequena vila no interior do país, no norte de Goiás ou de Mato Grosso, digamos. Se ela recebesse um grupo de indivíduos que terminaram seus cursos - um médico, uma ou duas enfermeiras, um advogado, um engenheiro - é claro que esta vila se beneficiaria. A meu ver, esse grupo deveria ficar lá dois anos, dando assistência à população, podendo depois retornar aos grandes centros. Um bom número provavelmente ficaria por lá, contribuindo para o desenvolvimento do país. Muitos responderão: "Ah!, mas aquelas pessoas não concordarão em ir". Mas meu Deus, como é feito o recrutamento militar ?Ele é obrigatório. Se nosso filho for chamado para prestar serviço ao Exército, tem de ir, não tem história. E irá para onde o Exército mandar. O número de médicos que sai das faculdades hoje é enorme, excessivo, e eles deveriam ser lotados no país inteiro.
Aliás, o número excessivo de médicos é outro problema. O Ministério da Saúde deveria estudar a situação do país, determinar o número de médicos necessário e propor ao Ministério da Educação que não permita a formação de médicos em número superior àquele que precisamos. O país está crescendo, mas as pessoas se formam e querem ficar em São Paulo. O importante é saber o que o país precisa. É tão difícil fazer isto ? Não pode ser. Por que não se pode mandar um médico ou outro profissional recém-formado para uma cidade do interior ? Basta que se negue a entrega do diploma até o cumprimento daquele estágio para que ele vá tranquilamente. É claro que se perguntarmos a eles se querem fazer um estágio de dois anos no interior a resposta será negativa. Mas se for convocado terá de ir, e prestará um serviço à nação. Há certos problemas de ordem geral como esse que não consigo entender. Talvez por ficar trancado numa sala de operação certas coisas me escapem.

A História Vivida

ER

3 comentários:

Anônimo disse...

Convocacao = violacao de vontade.
Ha civismo nas convocacoes militares e eleitorais.
No caso dos medicos, é pura sacanagem mesmo.

Anônimo disse...

É dificil entender que um morador lá no fim do mundo , ajude a pagar a formação de um médico em escola pública , e que em sua vida , jamais consiga ver um destes profissionais .
E quando surje esta possibilidade , aparece alguém para dizer que é violação de vontade .

Alaor

Anônimo disse...

Então SACANAGEM se paga com SACANAGEM.