No dia 12 de junho de 1970, em Porto Alegre, o bancário Raul dos Santos Figueira, voltou do trabalho para a casa, onde, filho único, vivia com a mãe viúva. Era Dia dos Namorados, com Raul na fossa. Sua namorada tinha lhe dado o bilhete azul, dias antes.
Vestiu sua camisa vermelha e saiu para uma cervejinha e um cinema.
Nas proximidades do cinema, de surpresa, foi cercado por uns brutamontes, que o socaram, enfiaram um capuz fedido na sua cabeça e o atiraram em um carro que partiu em disparada.
Acordou jogado no chão de uma cela suja.
Através de socos, pontapés, choque elétrico e pau de arara queriam que passasse informações sobre os seus cumplices.
Cumplices de quê ?
Dias antes aconteceu uma tentativa frustrada de sequestro do Consul dos EUA em Porto Alegre. Um dos suspeitos (ou envolvido) usava uma camisa vermelha.
Nove dias de pancadaria deixaram Raul um trapo.
A mãe, percorreu delegacias de polícia, hospitais, rádios, jornais, igrejas e visitou até o necrotério. Desespero puro.
No dia 21 de junho, quando aconteceria a final do Mundial de futebol no México, que terminou com o Brasil tri-campeão, a força de repressão descobriu que prenderam e torturaram o homem errado.
Encapuzado foi colocado em um carro, de onde, após girar por uns tempos pela cidade, foi atirado numa rua sem movimento.
Raul sobreviveu.
Episódio comum de uma noite escura vivida pelo País.
(Setenta - Henrique Schneider - Não Editora)
Viver é Perigoso