Há instituições de excelente reputação técnica trabalhando com queda do PIB brasileiro, em 2020, em torno de 10%. A taxa de desemprego, com os devidos ajustes sazonais, deverá ser de 18%, na média do último trimestre. É um tombo e tanto, o maior já registrado, em um só ano, em mais de um século.
Nas finanças públicas o estrago também será grande. O déficit primário da União, em 2020, deve superar 10% do PIB. A Dívida Líquida do Governo Geral (DLGG) – o melhor indicador, a meu ver, do grau de vulnerabilidade fiscal de um país – deverá saltar de 58% do PIB, no final do ano passado, para 72%, em 2021.
É um grande equívoco atribuir tal tombo ao isolamento social, adotado pelos governos estaduais e municipais, em maior ou menor escala, na maior parte do País, contrariamente à orientação presidencial. O vilão é o vírus, não as medidas destinadas a reduzir a velocidade de contágio, de forma a evitar o colapso do sistema de saúde e, portanto, salvar vidas.
Sem elas, a esta altura, o número de mortes tenderia a atingir patamar assustador. O medo e o instinto de preservação natural do ser humano afastariam as pessoas das ruas, do comércio e dos serviços. A retração econômica poderia ser igual ou maior à que vamos observar, com a agravante de perder muito mais vidas. Não se trata de mera conjectura. Há evidências internacionais que suportam essa afirmativa.
A economia brasileira já dava sinais de fragilidade desde o início do ano, antes da pandemia. A agenda fiscal e de reformas pró-produtividade não avançava. Muito disso se deve à forma desastrada como Bolsonaro conduzia o governo. Desde a posse, o presidente foi uma fonte recorrente de agitação do cenário político.
O País embarcou numa verdadeira montanha-russa de turbulências políticas que colocaram na agenda de discussões relevantes o impeachment do presidente e até a possibilidade de alguma ruptura da ordem democrática.
Claro que isso provocou o aumento das incertezas e afetou negativamente a imagem brasileira no exterior. As consequências econômicas disso são óbvias: inibição dos investimentos, fragilização do mercado de trabalho e do consumo e fuga de capitais.
As previsões não são, necessariamente, prenúncios de descontrole fiscal duradouro. Tudo depende de como o governo irá conduzir, em conjunto com o Legislativo, a agenda de reforma e as políticas públicas necessárias para tratar as sequelas deixadas pela crise.
Mas, infelizmente, a notória falta de envergadura de Bolsonaro para o cargo que ocupa não dá lugar para cenários otimistas.
Opinião - Cláudio Adilson Gonçalez - Estadão
Viver é Perigoso