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quinta-feira, 28 de maio de 2020

MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS


Deu na Folha de São Paulo

Embate sobre cloroquina mostra que medicina baseada em evidências engatinha no país

"...O entusiasmo de alguns médicos e de parte da população brasileira com o uso de fármacos sem utilidade comprovada contra o novo coronavírus deixou claro que ainda falta muito para que a chamada medicina baseada em evidências se consolide no país.

Essa abordagem, que busca usar os melhores dados científicos disponíveis para embasar as decisões sobre o tratamento de cada paciente, tem ficado de lado quando profissionais e gestores de saúde optam pelo emprego de medicamentos cuja eficácia e segurança ainda não foram demonstradas.

Embora tentativas de testar tratamentos cientificamente tenham ocorrido desde os séculos 17 e 18, a proposta de sistematizar esses testes como um guia para a prática médica é bastante recente, remontando aos anos 1980 e 1990, quando o termo “medicina baseada em evidências” foi empregado pela primeira vez por pesquisadores como Gordon Guyatt, da Universidade McMaster (Canadá).

A intenção era aumentar a objetividade das decisões clínicas com base no conhecimento obtido, por exemplo, em múltiplos estudos com grande número de pacientes para recomendar ou não determinada terapia.

Para reforçar a confiabilidade dessas recomendações, tais estudos deveriam aderir a padrões como a existência de grupos-controle (ou seja, a divisão dos pacientes estudados em pelo menos dois grupos, um dos quais recebia o tratamento sendo testado, enquanto o outro recebia um tratamento padrão já usado antes ou uma substância inócua, por exemplo) e a chamada randomização (alocando os pacientes aos diferentes grupos de modo aleatório).

Tais abordagens são necessárias para diminuir os diferentes vieses que surgem naturalmente durante a observação de um tratamento. Muitos problemas de saúde, por exemplo, acabam melhorando graças ao próprio organismo dos pacientes, mas a inexistência de um grupo-controle poderia levar os médicos a assumir erroneamente que o tratamento foi o responsável pela melhora.

No Brasil, ainda são raros os cursos de formação de profissionais de saúde que incluem em seu currículo disciplinas especificamente dedicadas a ensinar esses conceitos.

“No caso das faculdades de medicina, muitas vezes há apenas um módulo sobre o tema na disciplina de epidemiologia, por exemplo”, diz a reumatologista Rachel Riera, do Hospital Sírio-Libanês e da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), onde ministra justamente uma dessas raras disciplinas. “Existem também muitos cursos esporádicos e outros de pós-graduação, que têm crescido.”

Para Riera, a medicina baseada em evidências não é oposta à experiência pessoal de cada médico ao lidar com seus pacientes no cotidiano, mas ajuda a evitar que certos tratamentos continuem a ser usados de forma acrítica apenas por hábito, sem que tragam benefícios reais para o tratamento.

“É claro que existe uma grande lacuna, muitas vezes, entre o que seria a melhor solução possível e o contexto de cada profissional de saúde e cada paciente. Tratar um infarto agudo do miocárdio nunca vai ser a mesma coisa num hospital de uma grande cidade e numa comunidade ribeirinha da Amazônia”, pondera ela. “Não adianta só focar nos resultados de grandes estudos se você não leva isso em conta.”

Riera diz ainda que nenhuma situação recente pode ser comparada à pandemia de Covid-19, quando se considera a necessidade de aprender com grande rapidez maneiras de enfrentar uma nova doença..."

Viver é Perigoso

3 comentários:

Anônimo disse...

Antigamente existia Médico, hoje existe entendidos de nariz, de garganta,de rim, do pé, enfim, mas médico mesmo acabou, não conseguem conhecer o paciente, o negocio é PLANTÃO, $$$$, ficar rico!

Anônimo disse...

Parabéns à dra. Rachel pelo destaque como médica e professora. Fato positivo da pandemia é a luz sobre a Medicina Baseada em Evidências.

Quem já ficou doente ou tem doença crônica sabe valorizar o médico que além da sensibilidade leva em conta a ciência.

Julinho de Adelaide.

Aldo disse...

O problema é que falta tempo, e os médicos querendo salvar seus pacientes agarram-se até à creolina, se tiver chance. Para afogado jacaré é tábua de salvação.