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domingo, 5 de janeiro de 2020

UM SENHOR ESTADO


O jornal "O Estado de São Paulo" completou ontem 145 anos, tendo a sua edição inaugural publicada no dia 4 de janeiro de 1875, numa segunda-feira, com o nome de "A Província de São Paulo", que seguiu até 31/12/1899.

Comprovadamente um jornal corajoso e com princípios assumidos. Nada a discutir sobre o jornal. O ""Estadão é o Estadão e pronto".

A mais antiga de todas as seções, conhecida como "Notas e Informações", sempre localizada na página 3, mantem a tradicional postura do jornal de unir, em seus editoriais, conservadorismo político e liberalismo econômico, sendo uma das colunas mais emblemáticas de O Estado de S. Paulo, identificado com o pensamento "conservador" ou "neoliberal" no Brasil.

Existência de lutas.

Em 1924, o Estado foi impedido de circular pela primeira vez, entre os dias 28 de julho e 17 de agosto. A censura veio primeiramente do lado dos revoltosos, quando ocuparam a cidade, e depois do governo federal, após expulsar os rebeldes. Julio Mesquita foi preso e enviado ao Rio de Janeiro.

O chamado Grupo Estado assumiu em 1932 a liderança da revolução constitucionalista e, com sua derrota, boa parte da diretoria foi enviada ao exílio -  Júlio e Francisco foram para Portugal e lá permaneceram até novembro de 1933.

Anos depois, com a eclosão do Estado Novo (1937/1946), o jornal manteve a oposição ao regime e, em março de 1940, foi invadido pelo Dops por supostamente armazenar armas. O jornal foi inicialmente fechado e logo depois confiscado pela ditadura, sendo administrado pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) até 6 de dezembro de 1945, quando foi devolvido pelo STF a seus legítimos proprietários após a deposição de Getúlio. (Os números publicados a partir da intervenção são desconsiderados na história do diário).

Durante a República Nova (1946–1964) o "Estadão" alinhou-se à UDN de Carlos Lacerda e fez oposição a todos os governos, em especial o de João Goulart. Em 1964, o Estado apoiou o golpe militar - descrito como "contragolpe" por Ruy Mesquita - e a eleição indireta de Castelo Branco. 

Em 13 de dezembro de 1968, a edição do Estado foi apreendida em razão da recusa de Mesquita Filho de excluir da seção "Notas e Informações" o editorial "Instituições em Frangalhos", em que denunciava o fim de qualquer aparência de normalidade democrática. A partir do dia 15/12/68, o jornal passou a contar com censores da Polícia Federal em sua redação, ao contrário dos outros grandes jornais brasileiros, que aceitaram se autocensurar.

Em 1969, o jornal ganhou visibilidade mundial ao denunciar a censura prévia com a publicação de trechos de Os Lusíadas, de Luís Camões, no lugar de matérias proibidas pelos censores. Outros poetas, como Gonçalves Dias, Castro Alves, Manuel Bandeira e Cecília Meireles também tiveram obras suas publicadas no lugar de matérias censuradas. 

Entre 29 de março de 1973 e 3 de janeiro de 1975, o Estado teve 1136 textos cortados — em 655 ocasiões, versos de Os Lusíadas foram colocados no lugar das matérias cortadas. Muitos jornalistas do Estado foram perseguidos, presos e torturados.

A partir de 6 de janeiro de 1969, a censura continuou, mas a distância — os cortes eram ordenados por telefone ou por escrito. Ordens ignoradas eram punidas com a apreensão da edição na saída do prédio. Em 3 de dezembro de 1975, acabou oficialmente a censura ao jornal, com a ascensão de Ernesto Geisel ao poder.

Viver é Perigoso

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