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terça-feira, 24 de julho de 2018

MOMENTOS MÁGICOS



Viver é Perigoso

O DETETIVE - O PRINCÍPIO

"...Numa licença prêmio, no início dos anos 60, para conseguir um dinheirinho extra (origem do fusquinha), indicado por um colega de trabalho, pegou um serviço em Itajubá, cidade que até então não conhecia. Natureza do serviço: investigação."

O bom colega era o veterano detetive Queiroz, vindo de Montes Claros e nomeado graças a interferência positiva do deputado estadual petebista da região, Teobaldo Pacheco.

Atendendo a um pedido do Coronel Salomão, rico fazendeiro, correligionário e líder político no norte de Minas, o deputado Pacheco cobrou do detetive Queiroz, o favor feito. Política já era na base do toma lá da cá.

A Alzirinha, neta estimada do Coronel, era namorada, já de copa e cozinha e aliança no anular da mão direita, do Armandinho Noronha. Jovem, bem apessoado e estudioso, nascido e criado em Montes Claros.

Estimulado pelo Padre Leopoldo, Armandinho, numa aventura sem precedente, prestou e foi aprovado no vestibular de engenharia em Itajubá. De família sem muitos recursos, o Armandinho aceitou receber uma mesada do seu futuro avô, Cel Salomão, para se manter na distante cidade do Sul de Minas. Acerto verbal feito com previsão de duração de cinco anos.

Com o passar do tempo o inevitável aconteceu. Foram espaçando as viagens do Armandinho até Montes Claros. As cartas daqui para lá foram rareando e telefonemas, nem pensar.

Vendo a neta favorita chorando pelos cantos, o experiente Cel Salomão, cofiando a longa barba branca amarelada pelos cigarros de palha, disse baixinho: aí tem !

E tinha mesmo.

Foi numa missa dominical das oito, na Igreja de São José, que os olhares da Marisa se encontraram com os do Armandinho. Olhares compridos, diga-se.

Em um mês já viviam quase um para o outro. Daquelas paixões arrebatadoras e desenfreadas. Aos sábados e domingos à noite, os bancos do meio da Praça eram pequenos para eles.

A Alzirinha dançou.

Coube ao Queiroz vir investigar na terrinha a razão da frieza e o sumiço do Armandinho. Foi fácil comprovar.

Mas que beleza de casalzinho. O Queiroz ficou abalado. Pensou com seus botões: eu é que não vou estragar tudo.

À noite, com a estudantada mandando ver sanduíche de pão francês, da Padaria Boa Vista, é claro, filet coberto com queijo derretido, especialidade do bar do Sr. Zé Matos no comecinho da Rua Nova, Armandinho foi puxado de lado para uma conversa com o detetive Queiroz.

Conversa dura e educada. Armandinho admitiu que não gostava ou melhor, nunca tinha se apaixonado pela Alzirinha. Aquela coisa de amizade, conhecimento e o tempo passando. Já estava decidido e aguardando apenas a chamada do Padre Mário, do Colégio de Itajubá, que sabedor da história, havia prometido uma vaga de professor de geografia e história. Com o salário daria para sobreviver e dispensar a ajuda do ex-futuro avô, Cel Salomão.

Queiroz, na volta à Belo Horizonte, apresentou um relatório ao deputado Teobaldo Pacheco, com a conclusão:

"Tipinho irresponsável esse tal de Armandinho. Deu para beber, arruaceiro, mulherengo e anda aos trapos pelo Sul de Minas. Irresponsável e prestes a ser jubilado pela Escola de Engenharia. Ser irrecuperável. Recomendo que o Cel Salomão suspenda imediatamente a mesada e que a sua neta Alzirinha pague uma promessa por ter escapado de tal traste."

Dito e feito. 

Procurado para tratar de casos similares, o bom e humano Queiroz passou-os para o colega detetive detetive Lopes.

Curiosidade: Queiroz foi convidado (agradeceu e não aceitou) para ser padrinho de casamento da Marisa e Armando.

Viver é Perigoso