Estive na casa do Marcos Carvalho. Visita extremamente prazerosa. O cara conversa, ouve com paciência as nossas conversas e como um médico, no final da consulta, receita livros. Sem o menor ciúme vai até a sua aconchegante biblioteca, separa alguns exemplares e, praticamente, impõe a leitura dos mesmos.
Como estou razoavelmente lido, a mim foram receitados cinco volumes. Dois deles foram lidos de sopetão: "Já podeis da pátria filhos", do João Ubaldo Ribeiro, que não sei como não tinha lido até hoje e "Paris é uma festa", do Ernest Hemingway. No caso, tratou-se de uma releitura.
Impressionante como, passado tempos, a gente vê o livro de outra maneira. Quem não aprecia o Hemingway ? Que por sinal, dizem, é o autor do conto mais curto da história: "Vende-se sapatinhos de bebê, sem uso".
Ainda sobre Hemingway: Quando morava em Cuba, teve um caso com a bela atriz Ava Gardner. Ela foi visitá-lo e nadou nua na sua piscina. Ernest recomendou aos seus funcionários que jamais trocassem a água.
Paris foi uma festa na década de 20. Hemingway descrevendo as ruas, os bares, as comidas, vinhos e sua contando sobre suas conversas Gertrude Stein, Picasso, James Joyce, Ezra Pound e Scott Fitzgerald e Zelda.
Dez anos atrás, tive a oportunidade de tentar fazer as rotas de Hemingway. Uma semana caminhando pelas ruas, pelos cafés (quase todos ainda existem), pelas livrarias e pelas margens do Sena.
Hemingway não deixa deixa quase nada para a gente imaginar. Descreve tudo, o lugar e o momento com poucas e certeiras frases.
No início do mês voltarei ao médico, ou melhor, à biblioteca do Dr. Marcos Carvalho. Lendo, "A Pedra do Reino", do Ariano Suassuna, "As cinzas de Angela", do Frank McCourt e consultando "Um filme por dia", do Antonio Muniz Bandeira, organizado pelo Ruy Castro.
O Dr. Marcos atende pelo SUS, quer dizer, empresta livros.
Viver é Perigoso