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segunda-feira, 12 de novembro de 2018

TEMPOS COMPLICADOS

Nada de traumas e sequelas. Andam discutindo muito sobre as particularidades no ensino. Questões sobre o que pode e o que deve ser transmitidos nas escolas para as nossas crianças.

Sobre religião, olhando hoje pelo retrovisor, constatamos como as coisas foram brabas.

Por volta de 1958, buscando talvez uma melhor qualidade de ensino, o meu Pai José Riera, então viúvo, presbiteriano como todos os filhos, resolveu me matricular no 4º ano Primário do Colégio de Itajubá. Organização firmemente católica.

Colégio dirigido pelo distante Padre Agostinho, pelo amável Padre Mário e pelo severo Padre João. Como diziam na Boa Vista, é claro, passei cochado.

Quase todos os dias tinha aula de religião. A professora pediu que eu me retirasse da sala de aula. Ficava vagando sozinho pelo pátio enquanto durasse a aula. Uma vez por mês, todos eram levados para confessar e comungar, em fila indiana, até a Igreja Matriz. Eu ficava sentadinho no pátio esperando a turma voltar.

Sim, existia uma forte discriminação. Resolveram criar um grupo, que seria preliminar ao grupo de escoteiros, chamado de Lobinhos. Junto com todos os meus colegas de classe, me inscrevi. Na primeira reunião, fui chamado de lado pelo Padre João, que me informou não poder participar do grupo devido a minha religião.

Em muitos outros eventos fui, não disfarçadamente excluído. Sorte minha, que grandes colegas e amigos ficaram do meu lado, como o Sócrates Sarlas e Chiquinho Valente, que aliás, sempre me perguntavam o que teriam que fazer para serem crentes.

Claro que na ocasião me vinguei dos padres. Só fui pego uma vez quando atirei uma manga verde nos vidros onde funcionava a gráfica do jornal O Sul de Minas, que dava os fundos para o pátio do colégio. Penalidade: Pagar o vidro e fazer no quadro-negro, cem contas de dividir (daquelas que dá resto e vírgulas) sob fiscalização do Padre João.

Algumas vezes cheguei a pedir para o meu pai para deixar de ser presbiteriano, mesmo que temporariamente durante o tempo de primário e ginásio.

Uma ilha de tranquilidade e compreensão, sempre foi a Dona Lourdinha Coelho, depois Picard. Sempre carinhosa e amiga por toda a vida. 

É a vida...

Viver é Perigoso

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