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segunda-feira, 18 de junho de 2018

TOMOU O BARCO


... Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
estas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade

Regilena Carvalho nasceu em Pedralva em 9 de janeiro de 1947, a quinta filha do Dr. Bertolino Mendes de Carvalho e da Professora Maria Aparecida Silva de Carvalho. Criou-se em Itajubá. Dr. Bertolino foi político do PTB. Homem sério.

A Regilena tomou o barco na semana passada no Rio de Janeiro.

Casou-se com Jaime Petit da Silva em 24 de setembro de 1968, o ano que não terminou, segundo o escritor Zuenir Ventura. O AI-5 (ato institucional nº 5) foi publicado no dia 13 de dezembro de 1968.
Jaime foi preso no Congresso de Ibiúna em 12 de outubro de 1968. Um mês após o casamento.

Regilena foi visitá-lo com a mãe no Presídio Tiradentes em São Paulo.

Jaime, nascido em Piratininga-SP, veio morar com o irmão Lúcio, dois anos mais velho, em Itajubá, onde estudaram engenharia. Isso aconteceu a partir de 1962. Jaime se mantinha dando aula de matemática e física nos colégios de Itajubá e Brazópolis. Jaime foi dirigente do Diretório Acadêmico e integrante do PC do B.

Chamado para responder processo no 4º Batalhão de Engenharia e Combate, Jaime não compareceu. Foi condenado à revelia. Em julho de 1969 estavam em Goiania, com Jaime trabalhando com eletricidade rural e Lena, como secretária e auxiliar de hospital.

Em abril de 1971 estavam no Araguaia. A operação contava com 69 guerrilheiros. Entre eles, Lúcio Petit, sua esposa Lúcia Regina, a irmã Maria Lúcia, Jaime e a esposa Regilena.

Dos 69 guerrilheiros, 59 foram mortos, parte deles depois de presos. Entre eles, 12 mulheres. Lúcio, Jaime e Maria Lúcia, ficaram definitivamente nas margens dos Araguaia. 

Disse Regilena:

" O Jaime me amava loucamente e eu era louca por ele. Como é que a gente ia ficar longe ? Essa questão nem se colocou. Eu acreditei na proposta pelo entusiasmo dele, que aquilo era muito grande. Não tinha argumentos contrários do ponto de vista político ou teórico. Para mim aquilo ali era uma lei, o caminho correto, e acabou. Acreditei no caminho da luta armada. Isso era muito claro. Um rapaz que não podia estudar, não podia participar de um congresso, não podia falar o que pensava. Que diabo de vida era aquela, com tudo proibido ? É evidente que o fato de ele ser meu marido pesou muito, foi fundamental. Um outro homem talvez não tivesse a influência que ele teve. Então eu fui. Com um enorme entusiasmo. A Maria Lúcia (cunhada) já tinha ido. O Lúcio e a Lúcia Regina também. Então eu fui. O entusiasmo prevalecia sobre as dúvidas"

Dados do livro "As mulheres que foram à luta armada", do Luiz Maklouf Carvalho - lido em abril de 2004.

Viver é Perigoso


6 comentários:

ANSELMO disse...

Nossa... essa triste notícia me pegou de surpresa.
Gosto demais (mas demais mesmo) da Regilena.
Triste.
Embora o fim da vida seja conhecido por todos, é difícil demais lidar com a saudade e a perda.
Que Deus receba Regilena e conforte sua filha Luíza.

Túlio Vargas disse...

Li certa vez que Jaime e Maria Lúcia foram decapitados - eram necessárias provas de identidade. Regilene salvou-se porque contraiu Brucelose na guerrilha e foi tratar-se em hospital de Goiás. Lúcio teria sido forçado a um voo da morte. Procede?

Minhas condolências à família.

E ainda há vivandeiras que pedem "Intervenção". Que não nos esqueçamos dos horrores da Ditadura.

Edson Riera disse...

Anselmo -

A Regilena viveu a vida.

Zelador

Edson Riera disse...

Túlio -

Os absurdos do Araguaia creio que jamais serão esclarecidos. O procedimento macabro das Forças do Governo foram confirmadas por algumas testemunhas. Os irmãos Petit jamais se renderiam.

A Regilena, depois da execução a tiros da Maria Lúcia (ela estava na mata com o Jaime e escutou os tiros) concluiu que não dava mais para seguir com aquilo.

Um dia saiu e se entregou ao exército. Presa e interrogada. Deve ter passado maus bocados. Foi usada para tentar a rendição dos outros guerrilheiros, em vão.

Recomeçou a vida em Brasília.

Impossível analisar os acontecimentos sem voltar no tempo. O momento era único, a ditadura feroz com quem pensava diferente, o comunismo mundial com muita propaganda oferecia aos jovens idealistas um mundo diferente.

Inteligentes, às vezes imagino que hoje os Petit não seriam mais comunistas. Aliás, pelo menos uma vez na vida, quase todos fomos po breve período.

Zelador

Anônimo disse...

Tristeza. Ficará para os mais jovens as lembranças do seu tempo de redatora do O Sul de Minas. Aquilo é que era jornal interiorano. observador da cena

Edson Riera disse...

Observador de Cena -

Realmente. Tive o prazer de ter estado no jornal conversando com ela.

Zelador