Nos velhos tempos da Boa Vista, é claro, nas noites de víspora na casa do meu Avô Jayme Riera, o cantador oficil da família era o querido Tio Luís Riera, fundador do famoso Bar Caçador, que marcou época na cidade.
Normalmente não se dizia o número retirado do saquinho de pano. Dizia o apelido dado ao número. Quem entendesse, bem. Quem não, como se falava na época, "passava bolão". Isto é, não colocava o grão de milho no cartão, sobre o número cantado.
Valia duque (duas anotações na mesma linha), terno e a quina. Quando se completava a quadra, nervosamente, se esperava que fosse cantada "a boa".
Tudo girava em torno de centavos. Avós, pais, tios, primos e irmãos. Um ou outro visitante conhecido, tratado, discreta e carinhosamente, por "sapo".
Lembro-me do número 69. Cantado como "de qualquer jeito é triste".
Pois bem, pergunto eu, nessa segunda-feira chuvosa de início de um ano que se vislumbra com complicado.
Seria melhor estar com saúde, físico jovem e disposto, porém com a cabeça ruim, memória rateando e preferências por alienações ou estar com o motor batendo o pino, queimando óleo 50, lataria repleta de grilos, porém com a cabeça e pensamentos amplos, acelerados, memória admirável, vontade de saber, aprender, acompanhar, comparar e preservada capacidade de indignação com as injustiças, mentiras e erros ?
Talvez, fosse melhor cantar o "de qualquer jeito é triste".
Viver é Perigoso
2 comentários:
me lembro de jogar víspora na casa de minha avó, com todos tios, tias e primas ao redor da mesa, marcados sempre com feijões .. uma das ótimas lembranças das minhas férias durante minha infância.
Família toda reunida, refrigerante à vontade e altas conversas.
Tempo bom que não volta mais ..
Thomas,
Fico a pensar. Nós e o mundo melhoramos prá pior.
Zelador
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