Itajubá, agosto de 2017
Caro Amigo Dr. Aldo,
Muitas besteiras são ditas por gente que ouviu falar da Ditadura no Brasil. Muitos que viveram naqueles tempos, por interesses políticos, falam sobre aquele período de exceção, propositadamente com visões distorcidas.
Muitos viveram aquele tempo. A famosa revolução ou golpe, como queiram, acontecida em 1964, foi inevitável. O País foi tomado pela bagunça e outra alternativa não restava. Tirando os comunistas, ninguém lamentou.
Todos, de sã consciência, lamentaram a incrível demora para acontecer a redemocratização. Os militares gostaram e se apegaram ao poder.
Ouvimos pelo rádio, em 14 de dezembro de 1968, sentados em uma prancheta, preparando para o vestibular que aconteceria 3 semanas adiante, sobre o Ato Institucional nº 5. A partir daí que a revolução foi realmente sentida.
Suspensão de praticamente todos os direitos. Intervenções diretas, cassações de mandatos, ilegalidade de reuniões não autorizadas pela polícia, censura prévia de músicas, cinema, teatro e televisão.
Escureceu.
Vivemos na Faculdade os mais cruentos anos do período militar. Mas vivemos. E não alheios e tão pouco calados.
A restrição as manifestações políticas despertou uma criatividade cultural, possivelmente, jamais vista no País. Despertaram a cultura de modo geral.
O dia a dia do Brasil seguiu adiante, com empregos, acesso a saúde, segurança impressionante, comedimento no tratamento das coisas públicas, investimentos.
Violência de ambos os lados aconteceu. Excessos ocorreram.
Não conheci um ativista de "esquerda", e olha que conheci pessoalmente muitos, que buscassem a simples substituição de uma ditadura por outra. Duas correntes digladiavam entre si e em confronto com os militares. Um grupo de Moscou, com passagem por Cuba, tentando a revolta urbana e um Grupo de Pequim buscando o poder pela guerrilha rural.
Papo furado, aliás, furadíssimo, de dizer que lutavam pela liberdade, pela democracia.
Felizmente, a grande maioria, almejava o retorno de todos os direitos usurpados. Reivindicações feitas, em princípio de forma sutil e avançado gradativamente. Conseguiu-se.
Mesmo inquietos, sabíamos que se tratava de tempos de transição. O caminho da redemocratização estava traçado.
Mesmo ainda considerando a liberdade tão importante como o ar que respiramos, sinceramente, o Brasil viveu melhores tempos que os de hoje, quando nos levaram a não acreditar mais, praticamente, em nenhum político eleito e em outras autoridades constituídas.
Não creio em implantações de regimes duros. Não suportaria. Mas acredito em milagres. Só temos que nos comportar e agir, para fazer para os mereçamos.
Abraço,
Viver é Perigoso