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sábado, 4 de fevereiro de 2017

CARTA QUE NÃO RECEBI

Rio de Janeiro, 2016

A gravidade da crise que o Brasil atravessa é manifesta e está sendo apontada pela imprensa internacional; os escândalos de corrupção aumentam em número e gravidade a cada dia, enquanto os indignados diminuem.
Por quê? Cansaço ou desencanto com a imobilidade dos responsáveis por tirar o país do atoleiro? Paralisia da oposição que parece dormir tranquila, alheia ao terremoto em andamento?
Talvez, mas também pelo fato de ainda existir incrustada na sociedade uma exagerada reverência com os poderes políticos, econômicos e até religiosos.
Isso não é dito pelo jornalista. Aparece na consciência de brasileiros de várias classes sociais que confirmam essa dificuldade de criticar a autoridade com a qual preferem compadrar.
Apesar da falta de credibilidade oferecida hoje pelos políticos e seus partidos, o Brasil é um país com uma democracia mais acostumada a queimar incenso aos pés do poder do que exigir satisfações deles.
É tal a dificuldade de confrontar e vigiar as autoridades que até os jornais que exercem sua função cívica e social de ser a consciência crítica do poder são considerados oposição. Os jornalistas existem, no entanto, para serem porta-vozes da sociedade, não do poder. Para trazer à luz o que os poderosos tentam esconder..
Que os jovens, pouco importando suas tendências políticas, saiam às ruas para aplaudir ou defender o Governo costuma geralmente ocorrer apenas em ditaduras.
Se o jovem é conformista com 20 anos, como será aos 60?
Estamos constatando isso com muitos velhos militantes de esquerda que lutaram contra a ditadura na juventude e hoje balançam no conservadorismo e na corrupção.
Se os jovens pecam por algo, deveria ser pelo ardor libertário e irreverente com os poderes, dos quais nunca recebem o que lhes faria justiça.
Mariana, universitária paulista que me confirmou a existência desse pecado de reverência exagerada ao poder que, disse, “os brasileiros tem no sangue”, é de uma família humilde que teve de trabalhar duro para conseguir ir para frente. Segundo ela, o Brasil é um país “que foi construído pelas vítimas” e não por pessoas que decidiram vir livremente para construí-lo juntas, como aconteceu em outras partes do mundo.
Os colonizadores europeus, em sua grande maioria, foram enviados à força ou chegavam à procura de pura aventura, vítimas e párias que eram em seus países de origem.
Depois vieram os milhões de africanos que serviram como escravos de mão de obra bruta e servil. Acabaram abandonados à própria sorte.
Todas essas vítimas criaram, segundo ela, uma mentalidade que implica reverenciar o poderoso, para ser menos castigado e humilhado, ou para obter alguma vantagem para as suas vidas difíceis e sem direitos.
“Hoje eu estou consciente de que precisamos nos libertar dessa necessidade de agradar o poder em vez de ser sua consciência crítica, mas não é fácil quando seus antepassados cresceram sob essa cultura do medo dos poderosos ou do ‘jeitinho’ (flexibilidade sem acatar muitas normas ou leis) para arrancar algumas vantagens, lícitas ou não”, explicou a jovem Mariana.
Em sua coluna no jornal O Globo, Márcio Tavares DÁmaral escreveu há poucos dias: No nosso passado sempre houve quem nos dissesse que horas são”.
Permito-me tomar sua frase feliz para aplicá-la, embora em outro sentido, para indicar por que no Brasil ainda existe tanta reverência com os poderosos. Talvez porque as pessoas se acostumaram desde o início a que fossem eles que decidissem que hora marcava o relógio.
Terá chegado o momento em que o Brasil, em busca da modernidade, decida indicar a hora em que deseja viver uma democracia adulta, sem medo de expressar suas críticas e descontentamentos?
Se deixarmos o poder sem vigilância, ele continuará a nos impor a hora do seu relógio, mesmo à custa de sequestrar os nossos.
Pelo menos não nos coloquemos tão facilmente aos seus pés.
Seria o suicídio da democracia.

Juan Arias - El País

Viver é Perigoso

LÁ COMO AQUI !

Um juiz federal de Seattle suspendeu ontem, sexta-feira, o decreto do presidente Donald Trump, que impedia a entrada de cidadãos de sete países de maioria muçulmana no território norte-americano.

A medida adotada pelo magistrado James Robart tem efeito imediato sobre todo o país e caráter temporário até a tomada de uma decisão definitiva.

A necessidade de interferência dos juízes sobre as decisões estranhas do Executivo e Legislativo torna-se cada vez mais evidente.

O Trump poderá cair antes que esquente a poltrona da Casa Branca.

Viver é Perigoso