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terça-feira, 3 de outubro de 2017

CANTINHO DA SALA

Edward Hopper
“O grande homem é aquele que, no meio da multidão, mantém com perfeita doçura a independência da solidão” 

Ralph Waldo Emerson

Um café na esquina, uma rua vazia, olhares distantes, espaços, sombras, frio e silêncio. Uma barbearia, o escritório, um restaurante, um café. Uma mulher, um homem, talvez eles estejam brigando. Talvez estejam apenas sozinhos.

Tudo isso, incluindo objetos, personagens e milhares de perguntas, estão presentes na pintura de Edwar Hopper

Seus personagens estão sempre sós, entretidos consigo mesmos. Talvez em uma solidão urbana quase inevitável, mas não parecem necessariamente tristes. Eles não têm nome, não fazem qualquer coisa extraordinária. Não são diferentes ou especiais. São apenas comuns.

Eles estão ali, trabalhando em um posto de gasolina, estão até mais tarde no escritório, tomam café e compartilham o balcão com desconhecidos, eles leem uma revista ou jornal. E fazem isso enquanto o tempo corre, enquanto alguém está indo de um lugar para o outro, enquanto algo é resolvido ao seu redor.

Hopper, nascido em 1882, é um contador de histórias. Viveu os anos da depressão, viu na cidade de Nova York um lugar para passar seus anos. E foi dela que veio a inspiração para muitos dos seus trabalhos.

Ele nos leva de volta a um espaço no qual a gente normalmente não quer estar. Um espaço de inquietude, por se ver em uma das posições mais incômodas que a cidade nos coloca: a de sermos observadores invisíveis.

Dizem que ele lia todos os dias a citação (grifada acima) do Ralph Waldo Emerson, no qual há uma definição de solidão que o inspirava.

A inquietude que surge por meio da pintura de Hopper pode ser mais fruto do nosso desconhecimento sobre as diferenças entre solidão e solitude, tristeza e melancolia, do que propriamente um fato inerente às obras. Ainda que haja alguma coisa de melancolia nos olhares, nas cores, nas composições, nos lugares, ela não é desesperada.

Hopper é para quem gosta de ler um livro, de ver um filme, de tomar um  café, de caminhar pelas ruas enquanto observa.

Não importa o quanto você olhe. Não importa o quanto você se esforce para ver mais, para entender o que está se passando além daquelas paredes. Não importa sob qual ângulo você tente atravessar seu olhar por aquelas janelas, elas vão continuar teimando em revelar apenas o suficiente para forçá-lo a tentar de novo.

Você nunca vai deixar de ser um observador invisível, condenado ao silêncio, à distância, à melancolia.

Pelas janelas de Edward Hopper, você sempre vai estar condenado à solidão.

Luciano Andolini

Viver é Perigoso

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