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segunda-feira, 17 de abril de 2017

SEM DÚVIDA !


Viver é Perigoso

2 comentários:

marcos.caravalho disse...

Uma historinha:
Salvador, segunda metade dos anos 80.
Alugávamos antigos transformadores ASEA, reformados por nós, para a CNO.
Presidida, àquela época, em dupla pelo fundador (Norberto) e seu já nomeado herdeiro Emilio, salvo rasteira dada por minha memória já desgastada.

Bom preço, longos períodos uma vez que se tratava de transformadores que a Construtora usava para alimentar "serviços auxiliares" em seus canteiros de obra.

Éramos uma lilliputiana firminha baiana de engenharia, que sobrevivia à beira do abismo e do caos prestando básicamente serviços à Coelba e a algumas empresas do Polo de Camaçari - reformas, ampliações e até mesmo construção de SE's até 145KV.

Os velhos (anos 60) transformadores tinham uma característica especial, não mais existentes naqueles seus irmãos mais modernos (anos 70 em diante), que nos davam certa exclusividade como fornecedores: eram religáveis. Possuiam taps tanto em 440V quanto em 380V quanto em 220V. Com neutro acessível, seus valores F-N duplicavam essas possibilidades. E ainda tinham, cada um, placa acessível para regulação da tensão, utilíssima em obras em locais em que a tensão da concessionária chegava de muletas e capengando... Jóia rara de multifunção e multiuso em um canteiro de grandes obras.

Pois bem: todo último dia útil da cada mês, sem que houvéssemos sequer enviado a fatura ou cobrado, aparecia na porta de nosso escritório um funcionário da gigantesca (frente a nós) CNO, com a carteira de obras crescendo como erva daninha, com o cheque de pagamento do débito mensal para o minúsculo ETEL (nós).
Aguardava a emissão da NF, conferia os valores e se mandava.
Sempre pontual, sempre bem educado, sem qualquer olhar de nojinho para aquele caos em redemoinho que era nosso escritório.

Detalhe: não conhecíamos funcionários da CNO, não éramos amigos de gente que poderia fazer a ponte de nossa firma com a CNO. O contrato inicial havia sido fechado por telefone antes de o recebermos para assinatura. Nunca ouvimos qualquer insunuação de dar um agrado por isso. Contrato medíocre em termos de custo para uma CNO, claro.
Prá nós, um poço de água fresca no meio da catinga. No mais das vezes uma ajuda indispensável para completar a grana para pagamento da folha mensal...

Essa, por um dever de justiça, uma bela e grata recordação que faço questão de testemunhar a respeito dessa gigante que ora está enterrada até os gurgumilos numa lama que dá gosto... mas que não pode ser enxergada só através da lente dessa turma folgada, desonesta e debochada que tomou de assalto os corações e mentes da nossa medíocre canalhada política.

Lamentável, pela perda que a engenharia brasileira terá com o inevitável apagão do núcleo exemplar (quarto escalão e peãozada para baixo), da alma de uma "empresa" extremamente organizada e competente em seus negócios, excusos ou não excusos.
À época já houvíamos murmúrios pouco republicanos sobre a CNO e suas obras em Angra I e Complexo Pedra do Cavalo.

Pode parecer torcida a favor, mas não é.
É lamento mesmo.
É amargura de constatar mais uma vez como o Brasil tem capacidade (destino? azar?) de jogar pelo ralo algumas jóias raras que produz quase que por geração expontânea.

Abraço

Edson Riera disse...

Caro Marquinhos,

Tempos heroicos e ainda um pouco distante da política. Na minha lembrança de engenheiro, quase sempre na área comercial, a coisa pegou a degringolar prá valer no final dos anos 90. De 2000 em diante foi um disparate, sendo que após 2002 aconteceu o caos. Mataram a concorrência. Jogos de cartas marcadas, terceirizações, gulodices e caras-de-pau.
Sinceramente ? Nunca gostei da Odebrecht.
Estou pensando em fazer a minha delação premiada voluntaria. Coisa de pouca monta.
Abraço,