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domingo, 5 de março de 2017

SEM TRAVAS NA LÍNGUA


Fernando Chiarelli é um político que foge ao figurino tradicional. Ele não tem trava alguma na língua.
Em 1995, foi cassado pela Câmara de Ribeirão após ser acusado de chamar um colega de "aleijado".
Assumiu a vaga de deputado federal após a morte de um parlamentar e, num discurso, declarou que o "Judiciário é o poder mais corrupto que existe".
Na tribuna também afirmou que um ministro merecia cadeia – Wagner Rossi, que posteriormente deixou o cargo para se defender de acusações de irregularidades.
Chamou os líderes partidários de "líderes de quadrilha" e disse que a Câmara dos Deputados "funcionava à base da extorsão".
Dilma Rousseff, recém eleita para o primeiro mandato, era, nas palavras do orador, "a abobada que acaba de ser eleita presidenta".

No dia 2 de agosto do ano passado, momentos antes de ter sua candidatura a prefeito de Ribeirão Preto oficializada pelo PT do B, Chiarelli foi detido por três agentes da Polícia Federal.
O motivo da prisão: O ex-deputado havia sido condenado a um ano e oito meses de detenção pela Justiça Eleitoral (semiaberto) porque, quatro anos antes, chamara a então prefeita da cidade, Dárcy Vera de "desonesta", entre outros termos nada lisonjeiros ("ave de mau agouro", "criatura maldita" etc).

Chiarelli foi, então, levado para a penitenciária de Tremembé e lá ficou por 45 dias, até obter um habeas corpus. O ex-parlamentar perdeu o direito de participar das eleições.

Quase três meses depois, veio a redenção. Chiarelli preparava-se para fazer uma caminhada quando a televisão noticiou a prisão de Dárcy Vera numa operação da PF intitulada "Mamãe Noel".
De acordo com o Ministério Público, a hoje ex-prefeita participou de um esquema de fraudes em contratos da ordem de R$ 203 milhões.
"A investigação indica que Dárcy era a chefe, tinha proeminência, atuava na organização dessas fraudes, desses crimes", afirmou, à época, o procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Smanio.
Dárcy permaneceu 11 dias na cadeia e, desde então, vive reclusa em sua casa. Seus bens estão bloqueados.

No processo em que o juiz Luís Augusto Freire Teotônio condenou Chiarelli por calúnia, difamação e injúria por ofensas à ex-prefeita de Ribeirão, há outro episódio inusitado.
Segundo o relato do magistrado na sentença condenatória, Chiarelli chegou a desafiar um juiz para um duelo após a concessão de um direito de resposta à sua adversária no programa eleitoral.

Professor de inglês e tradutor, Chiarelli, 55 anos, diz que nasceu pobre e que ainda mora na mesma casa construída pelo seu pai. Ao falar sobre a temporada que passou na penitenciária, ele se diz muito indignado. "Se tivesse cometido um homicídio. Se tivesse roubado ou cometido peculato. Mas preso por calúnia?".

O ex-deputado corre o risco de voltar para a cadeia. No final do ano, foi novamente condenado (sete meses de detenção em semiaberto) em um outro processo por difamação, pelo mesmo juiz, contra a mesma ex-prefeita -  (Deu na Folha)

Viver é Perigoso

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