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sexta-feira, 10 de março de 2017

AQUI, ALI E ACOLÁ


O Presidente Donald Trump disse sobre os jornais: As pessoas já não acreditam neles. Acrescentou: “São inimigos do povo”.

É curioso que todos os caudilhos populistas de esquerda ou direita apresentem uma mesma obsessão pelo povo e a mesma pretensão de denegrir a informação que gostariam de controlar.

Trump deveria saber que entrar em confronto com a mídia é brincar com fogo. O novo líder americano só conseguiria domesticar a imprensa americana dando lugar a um regime autoritário.

Nada, porém, está mais distante de um país como os EUA, que cultivaram ao extremo o culto à liberdade de expressão, e onde surgiu a maioria dos movimentos de libertação do planeta, da política à ciência, passando pelas artes.

A afirmação de Trump de que as pessoas já não acreditam nos jornais, embora falsa, deveria nos fazer, porém, refletir sobre a categoria, já que até os melhores jornais podem perder sua credibilidade, algo que se conquista dia a dia.

O jornalismo tampouco está imune às críticas que hoje as instituições sofrem. Como escreveu sobre os jornais Victor Sampedro, catedrático de Ciências da Comunicação: “Estamos em trânsito. Não é fácil ver para onde se vai”. Ele se refere ao novo protagonismo que estão adquirindo as redes sociais, onde os cidadãos “também criam notícias”.

Será preciso, então, reinventar o jornalismo ou deveria ser esta a hora de defender a ideia pétrea para a qual nasceu?

Podem mudar as plataformas, as formas de escrever e as novas sensibilidades do cidadão moderno. O que permanecerá imutável são os princípios da informação, que exigem contar a verdade sem manipulá-la.

Não são as redes sociais que se alimentam, em boa parte, dos jornais de referência do mundo? Muitas vezes encontro notícias no Facebook nas quais se especifica, por exemplo, “publicado no New York Times” ou “Le Monde”, como garantia de credibilidade.

A imprensa não é, contudo, “inimiga do povo”, como ele diz. Pelo contrário, são os poderes autoritários que preferem que esse “povo”, tão idolatrado por eles, continue sem ler os jornais.

Juan Arias (resumo) - El País

Viver é Perigoso

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