"O pessimismo hoje, seja-me permitida mais esta expressão impolítica,
é um dever civil. Um dever civil porque só um pessimismo radical da
razão pode despertar com uma sacudidela aqueles que, de um lado
ou de outro, mostram que ainda não se deram conta de que o sono da
razão gera monstros."
O significado das palavras:
Preliminarmente, quero dizer que
quando falei de pessimismo quis referir-me ao pessimismo da
inteligência, que, como todos sabem, é perfeitamente compatível com
o assim chamado otimismo da vontade.
"Resignação", ao contrário, é
o pessimismo da vontade, uma vez que se pode falar corretamente de
pessimismo, que é um modo de olhar a realidade, em relação à esfera
da ação.
Quanto a pessimismo e derrotismo, pessimista é aquele que
teme, e derrotista, aquele que espera o pior. Não é possível imaginar
dois comportamentos mais antitéticos. O pessimista teme o pior
exatamente por desejar ardentemente o melhor. A bandeira do
derrotista é "quanto pior, melhor".
O pessimismo constata que as
coisas vão mal e fica profundamente perturbado com isso; o
derrotista constata que as coisas vão mal e fica alegre com isso.
O
primeiro tem medo porque espera; o segundo não tem medo porque já
perdeu toda a esperança e porque se desespera.
De resto, esperança e temor são dois estados de espírito que se
convertem continuamente um no outro.
Como escreveu Croce num
dos seus belíssimos trechos de ética, que deveria ainda hoje voltar a
ser lido, esses dois estados de espírito só não se convertem um no
outro quando "se fixam em conclusões, em atitudes e hábitos". Nesse
caso, sim, o temor deve ser condenado porque se torna paralisante;
mas, da mesma forma, a esperança deve ser condenada quando
induz a ações impulsivas e insensatas.
O contrário do temor não é a
esperança, mas a temeridade, a arrogância ou a imprudência. O contrário da esperança não é o temor, mas o desespero.
Norberto Bobbio
Viver é Perigoso
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