Translate

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

PUXÃO DE ORELHAS


Você reclama dos deputados em Brasília. Com razão. Diz que o processo de impeachment foi um circo a céu aberto. E foi. Era voto pra mulher, voto pro filho, pros "corretores de seguro", pra "paz de Jerusalém". Para você, quase ninguém tem moral naquele lugar. E você está certo.
E a sua avaliação não termina por aí. Você também não suporta o Senado. Renan Calheiros, Fernando Collor, Jader Barbalho. A lista é infindável. E o cenário é o mesmo. Apenas 9% da população brasileira aprova o Congresso Nacional. Não é por acaso. A gente não bota a mão no fogo por ninguém nas duas casas.
E ainda há os prefeitos e governadores. Você vive reclamando deles. Não suporta o Eduardo Paes e o Pezão. Odeia o Alckmin. Faz piada com o Beto Richa. E isso pra não falar dos outros, menos conhecidos. Se nós juntarmos todos os prefeitos, de todos partidos, de todas as cidades, apenas 26% da população aprova suas gestões. Menos de um terço. Quase metade (43%) acredita que eles são ruins ou péssimos. É um circo dos horrores.
Agora, você sofre com as eleições. Celso Russumano, Marcelo Crivella, Marta Suplicy. É o fim do mundo. Você vive reclamando do absurdo que é o voto ser obrigatório, das propagandas intermináveis na televisão, da sujeira que essa turma deixa nas ruas.
Reparou? Você odeia esses caras e provavelmente passará os próximos quatro anos reclamando de quem for eleito. Vai dizer o óbvio: que a saúde não funciona, que a educação não presta, que a segurança é ineficiente, que o saneamento básico não existe, que as ruas são esburacadas.
O problema é que, como diz o Thomas Sowell, esses caras não chegam a essa condição à toa: o fato de que muitos deles alcançam sucesso eleitoral mentindo não é exclusividade deles, é também um reflexo nosso; quando a gente quer o impossível, somente os mentirosos podem nos satisfazer.
E esse é o grande paradoxo aqui: por mais que você não vá com a cara dessa turma, ao mesmo tempo passa a vida toda esperando que eles cuidem de cada passo que você dá - do nascimento à morte - ao custo de praticamente a metade do que você ganha por mês. É você que subsidia isso.
Até quando? O que raios ainda é preciso acontecer pra você se dar conta que tem uma relação bizarra e insustentável com a política? Quanto tempo ainda é preciso pra você se tocar que está dando todos os incentivos possíveis para formar uma casta de parasitas, entregando todo poder do mundo a eles de mão beijada?
Lembre disso nessas eleições. Não existe nenhum messias na política. Pare de fingir que você só alcançará uma vida digna terceirizando ela aos cuidados de outra pessoa. Não eleja políticos interessados em aumentar seus poderes ao custo de mais burocracia e dinheiro. Quase todos são eleitos prometendo a mesma coisa. A frustração depois é sua. A conta também.
Você já é grandinho o suficiente pra ter se dado conta disso: chegou a hora de deixar os contos da carochinha para as estórias infantis.
Rodrigo da Silva (publicado pela Dalva Feitosa Santana )
Viver é Perigoso

Nenhum comentário: