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domingo, 1 de novembro de 2015

MEIA - SOLA

Antigamente, quando se consertavam sapatos, para o serviço ficar mais barato, os sapateiros trocavam somente a parte gasta do solado dos sapatos. Serviço conhecido como meia-sola. 
Na Boa Vista, é claro, funcionava a melhor sapataria do país e porque não do mundo, na colocação de meias-solas.
Para os de fora esclareço: Sapataria do Procópio.
Do Procópio já falamos muito. Quase um alienígena. Bem sucedido em tudo o que se propôs a executar. Artesão sapateiro, treinador de futebol, sacristão e o mais convincente lobisomem de Minas Gerais. Função só exercida às meia-noites das sexta-feiras e diga-se, com muita classe.
Trabalhava sentado em seu centenário banquinho, com assento de tiras de couro, por oras seguidas. Dali não arredava o pé nem para traçar a aromática bóia fornecida em marmita pela Dona Neide Bigodinho.
Permanecia sempre com as tachinhas no canto da boca e emitia sons de tuba de banda de música. 
Voltamos a meia-sola. Os sapatos eram caríssimos e originalmente quando comprados, quase sempre na "Estrela do Sul", vinham com solas de couro. Com o caminhar pelo piso áspero de paralelepipedo, gastavam rápido. 
Era regra: sentiu uma certa umidade no pé ? Hora da meia-sola.
Raríssima vezes a meia-sola era colocada de couro. Muito mais em conta as de borracha.
Aí é que situava a arte. A escolha da borracha ficava por conta da freguesia. 
Eram originadas de pneus usados.
Para calçados de crianças, de bicicleta, para adultos, de automóveis e caminhões. Havia exceção. O Zé Cláudio Cardoso exigia meia sola de pneu de vespa. Pagava mais caro, mas podia.
Esse negócio de escolher pneus para os bólidos de Fórmula 1 é mera cópia da tecnologia procopiana.
O sapado iria ser usado lá pelas bandas da Vila Isabel, Capetinga e Fazenda do Cel. Alcides Faria ? Pistas, ou melhor, caminhos lisos, escorregadios ? Meia sola de pneus Good Year, tipo lameiro. 
Para o caminhar macio da cidade ? Meia sola de pneus Firestone, tipo para pistas secas.
Não sei a razão, mas o Virgílio Machado, exigia solado duplo, tipo plataforma da Carmem Miranda. Talvez gostasse de ver o mundo lá de cima.
Ficava bom e sem dúvida durava muito. O ruim é que, talvez devido ao peso, deixava o pessoal da Boa Vista com um andar padronizado de Frankstein.
O chulé era ínfimo.

Viver é Perigoso   
     

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