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domingo, 9 de agosto de 2015

PRESENTE PARA O PAI


Com o passar dos anos vai ficando complicado presentear os pais. Eles já têm tudo. Gastam pouco ou nada de roupas. Gostam sempre das mesmas coisinhas. Não abandonam o chinelo gasto. As mesmas camisas e blusas.
Pais não têm vaidade. Guardam blusas que ganharam no dia dos pais do ano passado e nem usaram ainda.
Ah, uma coisa fica facilitada: suas roupas não mudam de tamanho. Não engordam e nem emagrecem.
Acontece algo estranho com os pais que gostam de ler e de ouvir músicas: eles não querem mais ler livros novos e ouvir músicas novas. Preferem reler os velhos livros e ouvir as mesmas antigas e lindas canções.
Perguntem ao seu Velho a razão dessa preferência. Certamente a resposta será:
- "Estes livros e discos têm muito mais do que letras, histórias e sons. Eles têm momentos".
E é verdade.
Para eles tudo está bom. Quer incomodá-los ? É só insistir questionando sobre o que gostariam de ganhar. A resposta é básica: - "Quero que vocês estejam bem e se puderem vir para almoçarmos juntos, ficarei feliz. Mas se não der, não tem problema, estaremos pensando um no outro".
No final, sempre acontece o inverso: o velho pai é que termina dando presentes para os filhos.
O presente que eu mais gostava de receber do meu pai eram as suas histórias.
Religiosamente as mesmas, porém jamais contadas do mesmo jeito. Eram aprimoradas e o impressionante, que reduzidas as palavras, ficavam mais ricas em detalhes, com as pausas maiores, suspiros e olhares ao longe.
Nunca escutei os "causos" do meu pai por obrigação ou simplesmente para agradá-lo. Eu contava com aqueles momentos. Fazem muita falta.
Ficávamos ao redor extasiados. De vez em quando a mãe tentava acelerar dizendo : - "Bem... termina logo com isso". Era bom demais.
Repetia sempre: o que é seu é seu, o que é dos outros, é dos outros - Se não for para falar bem dos outros, mal não fale - Não se curve muito, pode deixar a bunda a mostra.
O que judiava da gente era aquele olhar doce e marejado de lágrimas, quando no final do domingo nos despedíamos para voltar prá casa.
Se não fosse pelos meus filhos e netos, eu "pulava" o dia dos pais.

Viver é Perigoso (2010)


4 comentários:

Roberto Lamoglia. disse...


Edson, parabéns pelos comentários. Feliz Dias dos Pais para todos nós.

Afinal, nós merecemos. Um abraço, Roberto.

Edson Riera disse...

Caro Roberto,

Um abração.

Edson

Celem disse...

Zé ótimo texto. Me emocionou. Abriu o coração para boas recordações. Parabéns para nós todos.
Abs.
Celem

Edson Riera disse...

Celem,

Conheci o seu Pai e me lembro bem dele. Ainda em Cristina. Homem sério.

Abraço