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sexta-feira, 7 de agosto de 2015

CARTA QUE NÃO RECEBI

Brasília, 7 de agosto de 2015

Prezado Edson,

Sou um pouquinho mais nova do que você. Somos mineiros de 1947. Você de 29 de setembro e eu de 14 de dezembro. 
Crescemos ouvindo sobre o suicídio do Getúlio e a ascensão do nosso visionário conterrâneo Juscelino. Foi muito bom. Presenciamos a renúncia do Jânio e a complicada e curta presença do Jango. Ali, ao contrário de você, comecei a sonhar com o comunismo. Para você, talvez pelo seu cristianismo, foram pesadelos. Entendo hoje.
Com a chegada do regime militar, junto com amigos, entrei para luta armada. Fui presa e sofri, ao contrário de alguns outros que fugiram ou passaram a viver alienados com nomes falsos. Casei, descasei, ri e chorei. Tirando o "cofre do Ademar" e algumas "expropriações" feitas para manutenção da causa, nunca roubei.
Coisa vai e coisa vem, sem buscar e sem almejar cai aqui no Planalto.
Lemos os mesmos livros, escutamos as mesmas músicas e tirando as companhias, teríamos tudo para ter pensamentos mais próximos.
Sim, posso ser acusada de ter domínio do conhecimento dos malfeitos. Fui convencida de que valia tudo para alcançar e manter o poder.
Do alto teríamos amplas condições de implantar o regime dos nossos sonhos.
Não deu.
Confesso, que minha incapacidade na área política, na administrativa e econômica não transpareceu enquanto tínhamos recursos para o oba-oba.
Não tenho mais como seguir avante. Fizemos mal demais para o nosso país.
Conseguimos assassinar a credibilidade e anestesiar sonhos.
Hoje não me preocupo com punições, humilhações e etc. Que venham.
Preocupo-me com a enorme dificuldade a ser enfrentada para o reerguimento da Nação.
Perdoe-me, mas hoje,não temos lideranças com capacidade para assumir a tarefa.
Estou saindo à francesa.
Solicito que mantenha a informação em sigilo até a formalização legal.

Sds

(VIVER É PERIGOSO)
  
       

Um comentário:

marcos.caravalho disse...

Zé,
Preste atenção: toda vez que advogado usa o advérbio "absolutamente" ao negar alguma acusação contra um seu cliente, a acusação absolutamente procede.
Confere só pra você ver.
Abraços relativos