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terça-feira, 20 de maio de 2014

PALAVRAS DESAPARECIDAS

A menina era linda. Andavam trocando olhares já prá mais de mês. Cadê coragem para chegar e conversar ?
Lá em Delfim Moreira não acontecia esse disparar descontrolado do coração. Suar, rir por nada, perder a fome e o sono.
Menina rica, do Colégio da Irmãs e ele numa pendura de dar gosto  no Colégio Estadual.
Poucas roupas e todas de frio. É o normal em Delfim.
Encontros inesperados programados por ele com muita antecedência. Nos dias de semana tranquilo: Cruzavam-se em frente ao Bar do Totó. Era sagrado. Risinho para lá e para cá. As colegas da princesa a cutucavam com os cotovelos.
E nada.
O sábado levava uma eternidade para passar. À noite, nos giros da Praça, pelo menos dez encontros e nada.
Domingo na missa das 10 na matriz. Uma santinha dos olhos azuis. E nada.
À tarde, na sessão das quatro e quinze a dúvida cruel: Ela irá no Presidente ou no Alvorada. Olhando de longe e nada.
Que filme passou ? Sei lá! Sei que aparecia um leão no começo.
À noite no girar da praça. Das 20 às 21:30 horas. Dez giros e 20 encontros. Risos, caras, caretas e nada.
Sapato novo apertando e insistindo em engolir a meia.
Perigo iminente:
O arrumadinho que tocava na fanfarra se engraçou com minha loirinha.
Amanhã eu decido isso. Afinal, sou dos nascidos em Passa Quatro e criado em Delfim Moreira. Terras de revolucionários.
Noite em claro treinando gestos, jeitos e palavras. Tudo decorado.
Segunda feira de novembro horário de  verão 40º  e camisa nova. Tudo bem que era de xadrez, de flanela e com mangas compridas. Ás cinco da tarde, quando terminar as aulas e acontecer o nosso primeiro encontro falado, pode dar uma esfriadinha.
Estava ao lado da estátua quando ela saiu pelo portão. Parecia que estava atrasada umas duas horas, mas o Seiko de aço marcava só 17:10.
Ao vê-lo ela se assustou um pouco. Daqueles sustos de felicidade.
Limpando a garganta ele caprichou na voz de Rock Hudson (em português):
- Posso falar com você e talvez acompanhá-la até o Centro ? (ela morava na Praça do Banco do Brasil)
- Como uma cotovia (êpa!) ela murmurou docemente:
- Por mim tudo bem.
As colegas, entre risinhos se afastaram. Ele suspirou e pensou: Enfim, sós.
Seguiram.
A cabeça do jovem futuro médico aftalmo embaralhou-se. As palavras brigavam na ante-sala da fala e não se harmonizavam em frases. Seguiam caminhando. Ele trôpego de felicidade, não sabia por onde passava e o que estava acontecendo.
Atônito e em silêncio.
Após uma eternidade, atravessaram a praça no mais completo mutismo. Ela com sorrizinho feliz estampado no rosto. Ele avançando como um robot de olhar parado.
- Chegamos, murmurou a jovem ao chegar no portão da residência. E aí, o que você queria falar, disse com um lânguido olhar azul piscina.
Ele fitando-a com os olhos esgazeados reuniu as suas últimas forças e grunhiu:
- Tchau !
Virou-se e caminhando em direção ao Pé de Porco perguntou para o Sr. Zé:
- Quantas pingas dá para tomar com 10 cruzeiros ?
- Cinco das lavradas.
- Manda ver. Hoje eu morro para largar de ser um mudão.
É a vida...
 
ER
  

SÓ BLUES



Maravilha !

ER

SÓ FALTA !



Youssef para Presidente !

Clarin da Boa Vista

A JATO - LAVOU TÁ NOVO


VAI TER COPA

João Riera Lima