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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

TOMOU O BARCO

 
 
Muito antes do combinado tomou o barco ontem na terrinha o amigo Marcos Vinícius Ribeiro.
Marcão, para os amigos. Foi meu amigo, junto com seus irmãos, desde a mais tenra infância.
Estudamos juntos na Escola Dominical da Iª Igreja Presbiteriana de Itajubá, nos Grupos Escolares, no Ginásio e na EFEI. Família especial do Sr. Vinícius e Dona Odete, moradores de muitos anos no Morro Chic.
Passando de carro, ainda o vi ontem nas proximidades da esquina da Miguel Braga com a Rua Dna. Maria Carneiro.
Creio que tínhamos praticamente a mesma idade.
Seus irmãos Carlos Ribeiro e Sérgio são também grandes amigos e colegas de turma na Escola de Engenharia.
Teve sua vida brutalmente levada no Morro Chic. A região próxima da Estação Rodoviária está se confirmando como a mais perigosa da cidade.
Talvez seja o caso de entrincheirarmos em nossas residências após às 18:00 horas. Ou mudarmos para a Rua Nova, onde o policiamento é mais ostensivo.
É a vida.

ER
 

2 comentários:

Anônimo disse...

Zelador,

Há algum tempo, comentei que estava lendo Eichmann em Jerusalém, de Hannah Arendt. Prometi que faria um breve relato da obra e, como bom cristão, aqui estou para pagar a dívida. Pois bem, o livro conta a história do julgamento de Eichmann pelos judeus, já na década de 60. Esclarece, ainda, a participação do então tenente da SS no extermínio de milhões de judeus (a solução final alemã). É um relato detalhado e cuidadoso.
Mas o que chama a atenção na obra não é, exatamente, o julgamento. Ganha destaque as posições pessoais – e corajosas - de Hannah. Foi justamente essa coragem em dizer a verdade que a custou pesadas críticas da comunidade judia. Neste ponto vale a pena assistir Hannah, filme-biografia lançado no ano passado e que retrata muito bem esse momento histórico.
Quais seriam essas verdades? A primeira é a omissão de lideranças judaicas durante o holocausto, que preferiram a negligência e a negociação com os nazistas a enfrenta-los para proteger – ou ao menos tentar – seus irmãos de sangue.
Também questiona a legitimidade do sequestro (literalmente) levado a cabo pela Mossad em terras argentinas, onde Eichmann se escondia desde o final da guerra.
Hannah também nos coloca a par da mera formalidade do julgamento: Israel havia pré-julgado Eichmann, nada que houvesse no tribunal poderia afastá-lo da execução. Não que o nazista merecesse destino diferente, mas restou claro que seu papel foi pequeno no holocausto. Era um mero burocrata, que cumpria ordens sem qualquer reflexão, que nada tinha contra judeus ou qualquer outro povo. Era um verdadeiro idiota, nada próximo do monstro sanguinário, personificação maniqueísta que até hoje o persegue. Daí sua acertadíssima conclusão: o mal não nasce, necessariamente, de mãos monstruosas. Pode surgir na omissão criminosa, na ausência de civilidade, na falta de preocupação com o próximo. Daí a banalidade do mal.
E essa convicção me parece especialmente correta em tempos de políticos corruptos e mensaleiros, black blocs e crimes de oportunidade. Será que os meninos que mataram o cinegrafista da Band eram essencialmente maus? Ou sua despreocupada incivilidade casou a morte? Estivessem no lugar de Eichmann, fariam diferente? E nossos mensaleiros? Nascidos hipoteticamente na Alemanha nazista, teriam agido de modo distinto?
Não é o mal em sua essência, maniqueísta, que habita nosso inconsciente, que coloca em risco nossa cultura, nosso patrimônio, nossa integridade física. É o mal banalizado. Esse não é facilmente perceptível...
Também fiquei espantado com as pesadas críticas que fez à Nuremberg (não um tribunal para a justiça, mas um tribunal de exceção para os vitoriosos), à então União Soviética e seus crimes de guerra nunca julgados e ao uso das armas atômicas (quem autorizou seu uso era algo melhor que Eichmann?).
Enfim, não é uma obra que se lê em alguns dias, tampouco é algo que nos encha de prazer. Mas vale a leitura porque faz pensar. E muito...

Abraços,

Laissez Faire

PS: minhas condolências pela perda do amigo, levado desta vida talvez por esse mal banal que nos engole vivos neste triste país do carnaval.

marcos.caravalho disse...

Zé,
A imagem que me veio à mente nesta hora tão triste é a de nós dois, eu e o Marcão, encostados na porta do cafezinho do João, em muitos cair de tardes, banhinho já tomado, conversando enquanto ia chegando a turma.
Falávamos de tudo, certamente muita coisa desimportante, nada que tivesse melhorado um nadica de nada o mundo, mas aprendíamos ali, naquela doce vadiagem, sem que nos dessemos conta, o valor das amizades simples, sem firulas, sem "ó só do jeito queusô".
Eu, traiçoeiramente, sem avisá-lo e sem que eu mesmo soubesse, só anotava (em negrito), no departamento "memória afetiva", o valor da gentileza, da finesse e principalmente do inesgotável otimismo do Marcão.
Era um tempo muito mais gentil no mundo e nós não sabíamos... veja só que cochilada.
Grande Marcão...Deus, com certeza, há de guardá-lo muito bem.
Fica somente o espanto com a notícia e meu abraço apertado, fraterno e solidário pro Carlão e pro Luiz Sérgio.