Não existia coisa mais triste.
Era como se fosse o último dia de férias. Sei lá, uma quarta-feira de cinzas. Um vazio enorme.
Os circos sempre iam embora numa segunda-feira.
Eram montados na Praça da Estação. Ferroviária, uma vez que ainda não existia a Rodoviária. Os ônibus partiam e chegavam ao lado do Grupo Velho.
Terra arrasada.
Nunca ficavam mais do que uma semana.
Saquinhos de pipocas vazios e pedaços de maçãs carameladas. Papeis de bala chita, drops dulcora, sonho de valsa (com nozinho) e caixinhas de chicletes adams.
Não existiam embalagens plásticas e latinhas de refrigerantes. Modernidade.
Os circos iam sempre embora na madrugada. E de trem.
Artistas iam de primeira classe. Bichos, em vagões de gado. Material geral em vagões abertos.
Triste ver o globo da morte desmontado.
O destino era sempre o mesmo: São Lourenço.
Certa vez o trem atrasou na partida. Pela primeira vez vi os artistas fora do picadeiro (eles desapareciam durante o dia).
A malabarista era bem mais magrinha do que parecia. O trapezista bem mais barrigudinho. Os dois palhaços me pareceram tristes.
Um dia cheguei a pensar em ir embora com o circo.
Ser bilheteiro...talvez.
ER