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domingo, 3 de fevereiro de 2013

TRADUÇÃO DO SILÊNCIO

Vittorio Medioli - Jornal O Tempo
O tradutor oficial da corte inglesa, o poliglota Giovanni Florio, versado, ao mesmo tempo, em latim, italiano, alemão, francês, espanhol e inglês, melhor do que qualquer outro da sua época, sustentava que, para "interpretar corretamente o silêncio, era necessário conhecer muito bem a língua de um homem". Ele, dentre muitos, era quem mais admiração recebia de Elizabeth I por suas "traduções" introspectivas, pelo "fumus"(fumaça) que captava do não dito. A palavra - é preciso lembrar - é um ato de criação, uma magia. Faz surgir, do nada, objetos, sentimentos, circunstâncias. Gera a imagem que não foi possível presenciar-se. Estimula a descer mais fundo na interpretação, a roubar os segredos dos anjos, as maldades dos diabos. A palavra certa, no momento certo, pode iluminar o caminho, abrir a porta de um ambiente sublime. Pode também entristecer, aterrorizar, levar à morte.

Florio tinha ciência de que uma má tradução poderia provocar perda irreparável, condenação imerecida e até guerras e horrores. Bem por isso, no fim de sua existência, forjado pelas responsabilidades que enfrentou, confessava que "a gramática e a palavra eram meios mais úteis para pacificar a humanidade do que tratados de paz e acordos comerciais firmados entre homens de Estado". A palavra certa, no momento certo, desanuvia, penetra no íntimo, abre o coração, conquista territórios e riquezas, ergue a paz no meio das incompreensões. Mas cuidado: "para compreender o ânimo de um homem, é preciso escutar como ele fala, pois a maioria das coisas fica sem ser dita, nas entrelinhas. Todavia, a parte não dita é a mais importante, pois se refere ao que foi dito e fixa o sentido da verdade".

Pode parecer complicado, mas basta pensar que o homem, por tendência egoísta, preservacionista, foge do que lhe desagrada, do que o complica, do que o desmente, do que o faz lembrar-se de que está em falta com a verdade. O Mestre ensinou como o cisco no olho alheio assume mais gravidade que a trave que cega a visão do próprio estulto. Pois é por aí: "as palavras são as cores de um quadro; o silêncio, as sombras". Por isso, é preciso prestar mais atenção nas áreas negras; nelas, como no silêncio, o indivíduo esconde o que o incomoda, aquilo com que o povo não pode sonhar. Transcorridos 420 anos, se o tradutor de Elizabeth I reencarnasse no Brasil, teria que se dedicar a "traduzir o silêncio dos culpados", daqueles que, do trono, falam quase todos os dias. Falam sem parar, falam por medo de ter que escutar.
Vittorio Medioli

Um comentário:

Walter Bianchi disse...

ROTAN X ADVOGADO
Um advogado dirigia distraído quando num sinal de PARE ele passa sem parar, e na frente tem uma viatura da ROTAN.
Ao ser mandado parar, toma uma atitude de espertalhão.

Policial: - Boa tarde. Documento do carro e habilitação.
Advogado: - Mas por que, policial?
Policial: - Não parou no sinal de PARE ali atrás.
Advogado: - Eu diminuí, e como não vinha ninguém...
Policial: - Exato. Documentos do carro e habilitação.
Advogado: - Você sabe qual é a diferença jurídica entre diminuir e parar?
Policial: - A diferença é que a lei diz que num sinal de PARE, deve parar completamente. Documento e habilitação.
Advogado: - Ouça policial, eu sou Advogado e sei de suas limitações na interpretação
de texto de lei, proponho-lhe o seguinte: Se você conseguir me explicar a diferença legal
entre diminuir e parar eu lhe dou os documentos e você pode me multar. Senão, vou embora > sem multa.
Policial: - Positivo, aceito. Pode fazer o favor de sair do veículo Sr. Advogado?
O Advogado desce e é então que os integrantes da ROTAN baixam o cacete, é porrada pra tudo quanto é lado, tapa, botinada, cassetete, cotovelada, etc.
O Advogado grita por socorro, e implora para pararem pelo amor de DEUS.
E o Policial pergunta: - Quer que a gente PARE ou só DIMINUA?
Advogado: - PARE..... PARE...PARE...
Policial: - Positivo..... Documento e habilitação.